Em nota técnica divulgada no último dia 19 de abril, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso local de cólera registrado no Brasil em 18 anos. Isso significa que, desde 2006, os únicos contágios registrados no país eram importados, trazidos por pessoas que estiveram em outros países onde a doença circula – um deslocamento que não aconteceu nesse caso identificado em 2024.
Ainda segundo o Ministério da Saúde, o paciente – um homem de 60 anos, residente em Salvador – foi um caso “isolado” e não representa mais risco de transmitir a doença para as pessoas ao seu redor desde o dia 10 de abril. Quem entrou em contato com o homem não contraiu a doença, causada pela bactéria Vibrio cholerae O1 Ogawa.
A cólera é uma doença caracterizada por sintomas como diarreia, dores abdominais e cãibras. Sem os cuidados adequados, ela pode levar a um quadro de desidratação severa, potencialmente fatal. Conheça mais sobre a doença, seu tratamento e formas de prevenção abaixo.
+Leia também: Diarreia em crianças: quando os pais devem se preocupar?
Como uma pessoa pega cólera?
O modo de contágio se dá pela ingestão de água ou alimentos contaminados com bactérias Vibrio cholerae. A água, por sua vez, é infectada pelas fezes de uma pessoa que ainda está na fase ativa da doença.
Quando essa água é usada para beber, cozinhar ou lavar alimentos e não é adequadamente filtrada ou fervida, a bactéria entra no corpo de quem a ingeriu e passa a se reproduzir no intestino delgado, provocando quadros de diarreia.
Devido ao modo de contágio, a cólera é mais frequente em locais sem saneamento básico, ou após desastres naturais que podem fazer sistemas de esgoto extravasar sobre o fornecimento de água, como enchentes e terremotos.
Em casos mais raros, é possível contrair cólera diretamente de alguém já infectado, motivo pelo qual é importante manter hábitos de higiene pessoal e lavar bem as mãos em caso de suspeita de contaminação.
Qual o tratamento da cólera?
A doença geralmente é passageira, mas exige cuidados enquanto o paciente está convalescendo, o que pode perdurar por uma a duas semanas. A maior preocupação é com a desidratação causada pela diarreia, tornando importante repor não só líquidos, mas também eletrólitos, geralmente com ajuda de soro.
+Leia também: A ciência da hidratação
Casos mais graves podem exigir hidratação intravenosa. Em algumas situações, conforme avaliação médica, também são receitados antibióticos para combater a bactéria e tentar fazer a fase sintomática da doença acabar mais rápido.
Existe risco de epidemia de cólera no Brasil?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no primeiro trimestre de 2024 foram contabilizados 31 países com casos ou surtos de cólera registrados. Embora a maioria dos casos hoje esteja em países africanos, nas Américas também há surtos em andamento, no Haiti e na República Dominicana, que compartilham território em uma mesma ilha no Caribe.
O Ministério da Saúde ressalta que o paciente identificado em Salvador não transmitiu a doença para ninguém ao seu redor e não está mais contagioso. No entanto, o caso é autóctone, o que significa que a infecção ocorreu no lugar onde ele morava, sem se deslocar para países onde a doença circula mais amplamente.
Antes desse contágio em 2024, os últimos casos locais de cólera do país tinham sido confirmados entre 2004 (21 pessoas) e 2005 (cinco casos), todos no estado de Pernambuco.
Embora o risco de uma epidemia seja baixo no Brasil, existe a possibilidade de outros casos acabarem ocorrendo, especialmente em zonas sem acesso a saneamento básico – principal método de prevenção ao contágio.