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Mucormicose: entenda a relação entre a doença do fungo negro e a Covid-19

Uso indiscriminado de corticoides e presença de comorbidades aumentam risco dessa infecção secundária perigosa, mas rara, entre acometidos pelo coronavírus

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 30 jun 2021, 17h25 - Publicado em 29 jun 2021, 16h35

Em meio ao seu pior momento da pandemia de coronavírus, entre abril e maio, a Índia teve que lidar com um problema extra: o aumento de casos de mucormicose entre os infectados. Também conhecida como doença de fungo negro, ela acometeu 31 mil pessoas no país asiático. No Brasil, por enquanto, foram 49.  

A mucormicose é uma infecção oportunista rara, com incidência média de 1,7 casos em cada milhão de indivíduos. Ela preocupa por provocar necrose dos tecidos da face (daí o nome de fungo negro), podendo atingir o cérebro, deixar sequelas e levar à morte. 

“Talvez seja a doença fúngica mais grave, com letalidade na casa dos 45%. Mas pode chegar a 80% em pacientes na UTI ou com comorbidades que afetam o sistema imunológico, em especial o diabetes”, comenta o infectologista Guilherme Furtado, chefe do setor no Hospital do Coração (HCor), em São Paulo. 

Antes de entrarmos nos detalhes da mucormicose, é bom esclarecer que não há motivo para pânico por aqui. “Os médicos devem ficar atentos para fazer o diagnóstico, que não é tão simples, e se preparar para um aumento discreto do quadro, mas não da forma que aconteceu na Índia”, aponta Furtado.

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Isso porque a incidência por lá já era muito superior à média mundial. Para ter ideia, no Brasil, foram registrados 36 casos em 2020 e 49 até agora, em 2021, ou seja, um crescimento de 36%. A Índia tinha 500 registros anuais, e viveu um aumento de 6 000% na prevalência da doença no mesmo período. 

O que é a mucormicose 

Como adiantamos, trata-se de uma doença já conhecida, transmitida por três tipos de fungos da ordem Mucorales. Fungos são micro-organismos presentes no ambiente e estamos em contato com eles praticamente o tempo todo. Alguns, contudo, causam doenças, especialmente em organismos já enfraquecidos. 

Os que provocam a mucormicose estão em resíduos orgânicos, como alimentos, no solo ou em matéria vegetal. Eles atingem o homem por meio da inalação de esporos. 

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“Quando encontram um ambiente favorável para crescer, como ocorre na pessoa com o sistema imune comprometido, começam a se multiplicar e causar problemas”, comenta o pneumologista Rodolfo Bacelar Athayde, do Complexo Hospitalar Clementino Fraga, em João Pessoa (PB). 

O mais comum é que a infecção acometa a área que funciona como sua porta de entrada. “O quadro inicial é parecido com uma rinite ou sinusite, e pode ser confundido com uma infecção bacteriana”, aponta Athayde. Depois dos primeiros sintomas, os fungos atingem os vasos sanguíneos, levando à necrose nos tecidos, em especial do rosto. 

Ainda mais raramente, existem as formas cerebral, pulmonar e gastrointestinal. No ano passado, por exemplo, o HCor atendeu um homem que já estava se recuperando da Covid-19, mas começou a piorar muito. “Detectamos que a mucormicose estava no intestino dele”, conta Furtado. 

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Seu tratamento é longo e difícil, feito com antifúngicos específicos, em especial a anfotericina B. Dependendo da severidade, é preciso realizar uma cirurgia para retirar os tecidos comprometidos.

Diabetes e uso indiscriminado de corticoides aumentam risco

Um dos fatores que fez a doença explodir na Índia foi a alta incidência de diabetes no país. A doença descompensada é o fator de risco mais conhecido para a mucormicose – antes da pandemia, era a responsável pela maioria dos casos brasileiros. 

A relação é explicada pelo efeito negativo do diabetes no sistema imunológico, tanto que o quadro também está ligado ao agravamento da Covid-19. “Existe ainda uma teoria de que os níveis altos de glicose no sangue geram uma acidose que estimula o crescimento do fungo, mas a queda da imunidade é o principal problema”, destaca Athayde. 

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Outro ponto desta equação é o uso de corticoides, medicamentos que suprimem as defesas do corpo. Pertencem à categoria diversos integrantes do “kit Covid” empregado pelos defensores do tratamento precoce: prednisona e dexametasona, para citar dois. 

Anti-inflamatórios são necessários em quadros severos de Covid-19 (daí o risco maior do fungo negro em indivíduos na UTI), mas estão sendo usados indiscriminadamente. Tanto na Índia quanto no Brasil, aliás. 

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“Falamos muito para não se fazer o uso de corticoides na fase inicial da doença, pois isso deixa o ambiente do jeito que o fungo gosta. Sem falar que abre caminho para outras infecções oportunistas”, alerta Furtado.  

E a preocupação não é só com remédios dessa classe. “Outras correntes advogam ainda que o uso sem necessidade de antibióticos, como a azitromicina, altera nosso microbioma, o que poderia piorar ainda mais o cenário”, complementa Athayde. 

Surto pode servir como lição 

Embora a possibilidade de uma epidemia de fungo negro acontecer por aqui seja remota, o aumento discreto já é o suficiente para expor as consequências de escolhas duvidosas, sobretudo diante da Covid-19. 

“Se a pessoa mantém suas doenças de base controladas, adota um estilo de vida saudável e não toma medicações de maneira inadequada, dificilmente terá um problema do tipo”, orienta Athayde.

Por fim, vale dizer que o descontrole da pandemia na Índia não só deu origem a um surto de mucormicose como abriu caminho para o surgimento de uma nova variante que está se espalhando pelo mundo

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