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Estudo mostra a influência de idade e sexo na gravidade do coronavírus

Pesquisadores brasileiros apontam quais marcadores no sangue estão associados a sintomas mais severos da Covid-19 em homens, mulheres e idosos

Por Karina Toledo, da Agência Fapesp
Atualizado em 24 ago 2020, 19h10 - Publicado em 20 ago 2020, 19h05

Após analisar resultados de exames laboratoriais de quase 179 mil pessoas testadas para Covid-19 no Brasil – 33,2 mil delas com diagnóstico confirmado – um grupo de pesquisadores identificou diferentes perfis clínicos da doença que são influenciados pelo sexo e pela idade do paciente, bem como pela gravidade do quadro.

Os resultados do estudo, apoiado pela Fapesp, foram descritos em artigo disponível na plataforma medRxiv, ainda sem revisão de outros cientistas. Segundo os autores, os achados podem servir de referência para os profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à pandemia do coronavírus.

“O vírus Sars-CoV-2 pode desencadear um amplo espectro de manifestações clínicas, variando de doença assintomática ou leve a doença grave e morte. Os parâmetros laboratoriais também variam de acordo com a idade e o sexo do paciente e, muitas vezes, os médicos têm dificuldade para interpretar os resultados dos exames e identificar uma alteração significativa. Esperamos que este trabalho possa ajudar nesse processo de avaliação”, diz à Agência Fapesp Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP).

Por métodos de bioinformática, o grupo coordenado por Nakaya analisou mais de 200 parâmetros laboratoriais dos milhares de pacientes da amostra, entre eles contagem completa de células sanguíneas e dosagem de eletrólitos, metabólitos, gases no sangue arterial, enzimas hepáticas, hormônios e biomarcadores de inflamação. Tais exames fazem parte da rotina de investigação clínica de pacientes com suspeita de Covid-19 e outras doenças infecciosas.

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Os dados usados na pesquisa foram obtidos no COVID-19 Data Sharing/BR, um repositório de acesso aberto criado pela Fapesp e pela USP para abrigar, inicialmente, informações de pacientes que fizeram teste para o coronavírus nos laboratórios do Grupo Fleury, em todo o país, ou nos hospitais Israelita Albert Einstein e Sírio-Libanês, ambos na cidade de São Paulo.

“Trata-se da maior coorte de pacientes com Covid-19 cujos dados laboratoriais foram sistematicamente analisados até o momento”, comenta Nakaya.

De acordo com o pesquisador, o primeiro passo foi separar os diferentes grupos de pacientes a serem analisados considerando, principalmente, a idade, o sexo e o resultado do teste diagnóstico. Após o processamento das informações, uma série de análises foi feita para traçar o perfil laboratorial da Covid-19 nos diferentes grupos de pacientes. Tudo isso foi comparado com indivíduos submetidos aos mesmos exames, mas sem diagnóstico confirmado.

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Problema complexo

Inicialmente considerada uma infecção de vias respiratórias, a Covid-19 tem se revelado uma doença sistêmica, que pode estar associada a distúrbios gastrointestinais, hepáticos, cardiovasculares e neurológicos, podendo evoluir para síndrome do desconforto respiratório agudo, falência de múltiplos órgãos e morte.

“Tais manifestações extrapulmonares estão associadas a alterações nos níveis circulantes de diversos parâmetros bioquímicos, como bilirrubina, ureia, creatinina, mioglobina e fatores de coagulação. E ainda pouco se sabe sobre a influência do sexo e da idade do paciente no padrão desses parâmetros”, explica o médico Bruno Andrade, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Salvador, na Bahia, e coautor do artigo.

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Segundo Andrade, estudos observacionais – baseados na análise de internações e óbitos – indicam que indivíduos idosos e do sexo masculino são os que apresentam maior risco de evoluir para quadros graves. “Contudo, essa associação ainda carece de confirmação biológica e o mecanismo fisiopatológico não foi totalmente esclarecido”, diz.

Nas análises descritas no artigo, a infecção pelo Sars-CoV-2 em indivíduos de 13 a 60 anos se mostrou associada a alteração em diversos parâmetros laboratoriais de maneira muito mais frequente em homens do que em mulheres. Em pessoas com mais de 60 anos, as alterações laboratoriais parecem ter afetado igualmente homens e mulheres.

Indicadores usados para avaliar a presença de inflamação sistêmica, como a proteína C-reativa (PCR) e a ferritina, mostraram um padrão de alteração importante na presença de Covid-19, especialmente em homens idosos (acima dos 60 anos). Esses resultados sugerem que o alto índice de complicações e mortalidade documentado nessa subpopulação pode ter associação direta com a inflamação sistêmica desregulada.

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Alteração em testes de função hepática (AST, ALT, gama-GT) foi comumente observada em vários grupos etários, exceto em mulheres jovens. Na avaliação dos autores, esses resultados indicam que a disfunção hepática é um fenômeno corriqueiro no contexto dessa infecção.

“Essa observação é importante, pois o fígado é um órgão central e coordena a produção de uma série de proteínas e outras moléculas que regulam processos como inflamação e coagulação. Alterações hepáticas podem ser um fator determinante para o descontrole de inflamação sistêmica associada a desfechos clínicos mais desfavoráveis”, explica Andrade.

Por fim, nos pacientes internados em UTI, o grupo notou alterações importantes em exames que avaliam o sistema de coagulação sanguínea (como d-dímero), contagem mais elevada de neutrófilos e maiores concentrações de marcadores de inflamação sistêmica (como a proteína C-reativa) e de dano celular e tecidual (como o lactato desidrogenase).

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“Esses resultados sugerem uma clara associação entre a gravidade da doença e a ativação descontrolada de processos inflamatórios que possivelmente desencadeiam coagulação. O gatilho inflamatório da atividade de coagulação é uma hipótese relevante, pois implica que o controle terapêutico pode ser otimizado por meio de terapia anti-inflamatória. Porém, ainda são necessários estudos futuros desenhados para testar diretamente essa ideia”, afirma o médico.

Este conteúdo é da Agência Fapesp.

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