Para muitas pessoas que se infectam com o novo coronavírus (Sars-CoV-2), o sumiço do agente infeccioso da circulação não representa necessariamente o fim dos problemas. Vários sintomas podem persistir ou até mesmo dar as caras após a recuperação da Covid-19. Um deles é a perda de cabelo.
Essa queixa apareceu em um levantamento americano conduzido pela Escola de Medicina da Universidade Indiana e pela Survivor Corps, um grupo de sobreviventes do Covid-19 que busca aumentar a compreensão sobre a doença e impedir a disseminação do vírus. Cerca de 1 500 pacientes que sofreram com sintomas por semanas e até meses participaram da investigação.
“Um estudo recente do CDC [Centro de Controle e Prevenção de Doenças] identificou 17 sintomas persistentes da Covid-19, mas nossos participantes reportaram 98 de longo prazo”, comentou a professora de Medicina Natalie Lambert, uma das responsáveis pelo levantamento, em comunicado à imprensa. Ela informou que surgiram relatos de dor nos nervos, dificuldade de concentração e para dormir, visão embaçada e… queda de cabelo.
A médica Ana Carina Junqueira, tricologista à frente do IBEMC – Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisa em Medicina Capilar, conta que a perda dos fios atinge aproximadamente um terço dos indivíduos que receberam o diagnóstico de Covid-19. “E ela tem ocorrido após quadros graves, leves ou mesmo assintomáticos”, revela.
Quem também tem percebido esse impacto no dia a dia é a dermatologista Leila Bloch, de São Paulo: “Trata-se de uma queda acentuada, similar à observada em outras viroses, como zika e chikungunya”.
Possíveis explicações
De acordo com Ana Carina, a hipótese mais aceita até o momento é que a infecção pelo novo coronavírus desencadeia um distúrbio chamado eflúvio telógeno, no qual os fios que estão crescendo passam para a fase da queda precocemente.
“Ele pode acontecer por vários motivos, entre eles infecções e estresse psicológico”, aponta a médica do IBEMC. Ou seja, dois fatores presentes na vida de quem contraiu a Covid-19. O resultado é uma espécie de colapso no organismo, capaz de culminar na alteração do ciclo capilar.
Leila nota ainda que, quanto mais intensa a febre apresentada pelo paciente, pior para as madeixas. Nesse contexto, há aumento na liberação de algumas substâncias ligadas à inflamação. “Isso faz o cabelo cair”, explica Leila Bloch, que também é autora do livro Fio a Fio (clique aqui para comprar).
Ela não descarta também a possibilidade alguns medicamentos utilizados no tratamento da Covid-19 contribuírem para a queda. Novos estudos, já em andamento, devem ajudar a elucidar o quadro.
Quem sofre mais com a queda de cabelo: homem ou mulher?
Ainda não dá para cravar em qual sexo a queda é mais intensa. “Devemos considerar que o impacto psicológico da queda costuma ser maior entre as mulheres”, analisa Ana Carina. “E elas geralmente têm fios mais compridos. Por isso, notam com mais facilidade quando estão caindo em excesso”, acrescenta.
Tem solução para esse sintoma do coronavírus?
Em primeiro lugar, é importante frisar que o tal eflúvio telógeno é temporário – só que é preciso ter paciência. “O fio é recuperado, mas com um atraso de três a seis meses”, avisa Leila.
Enquanto isso, nada de relaxar na lavagem do cabelo – por mais que ele caía durante a limpeza. “A orientação é lavar todo dia e usar xampu de controle de oleosidade. Assim, há diminuição da inflamação do couro cabeludo”, ensina a dermatologista.
Leila ressalta ainda que muitos pacientes que tiveram a Covid-19 citam uma sensibilidade aumentada no couro cabeludo, conhecida como tricodínia. “E há xampus específicos para esses casos”, nota.
Por essas e outras, ao perceber alterações nos fios, o ideal mesmo é buscar um especialista no assunto. Além de indicar as melhores práticas, Ana Carina diz que ele vai se certificar de que não há outra disfunção capilar envolvida ou qualquer fator capaz de agravar esse distúrbio do ciclo. Assim, evita-se uma queda maior e mais duradoura.
“E há tratamentos para ajudar o cabelo a crescer mais rápido. Podemos indicar loções, xampus, vitaminas, nutracêuticos e até medicamentos”, acrescenta Leila.