Uma cirurgia feita com alguns furos e uma câmera e que, por estressar menos o corpo, permite uma recuperação mais rápida e com menos dor. Esse é o conceito por trás da videolaparascopia, que nasceu como um método diagnóstico (também é usada assim até hoje) e evoluiu para um procedimento terapêutico.
Em 2020, celebramos 30 anos da chegada da técnica ao Brasil. E conversamos com dois dos médicos pioneiros nessa história, o ginecologista Caio Parente Barbosa, professor da Faculdade de Medicina do ABC, e o gastroenterologista Thomas Szegö, sócio-fundador da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica e da Sociedade Latino-Americana de Cirurgia Videlaparoscópica, para você entender de vez como ela é feita.
A anestesia
Laparoscopia é uma palavra de origem grega que significa “observar o abdômen”. No caso, com uma câmera. Mas, antes de iniciar o procedimento em si, os médicos recorrem à anestesia geral para evitar que o paciente possa experimentar uma sensação de sufoco causada pelo uso de um gás na barriga. Ela pode ser combinada a anestesia local, peridural ou raquidiana.
Os furos e o gás
Para começar, o cirurgião faz incisões de cerca de 1 centímetro na pele do paciente. Então, injeta gás carbônico através de uma delas para criar espaço entre os órgãos e afastá-los da parede abdominal, permitindo a visualização e a manipulação na área. O gás é absorvido após a cirurgia, mas pressiona o diafragma durante o processo, influenciando a respiração.
As ferramentas
O passo seguinte é a inserção de equipamentos compridos e finos por aqueles buraquinhos com o objetivo de realizar a operação de fato. O médico conta com uma grande variedade de tesouras e pinças. Os tipos e a quantidade dependem da intervenção. Para a retirada da vesícula, são necessários quatro furos. Numa cirurgia bariátrica, de quatro a sete.
A câmera
É um item indispensável e entra em todos os casos. Introduzida no abdômen, transmite as imagens da cavidade para um monitor, permitindo que o especialista veja o que acontece ao vivo dentro do corpo. Até agora a imagem era transmitida apenas em duas dimensões. Mas hoje câmeras em 3D estão chegando para facilitar o trabalho do cirurgião.
A recuperação
Por fim, os aparelhos são retirados e os orifícios fechados com pontos, deixando cicatrizes quase imperceptíveis. Por ser uma técnica minimamente invasiva, a recuperação é muito mais rápida do que em uma cirurgia aberta. A alta costuma ocorrer cerca de 24 horas após o procedimento e em poucos dias já se retoma uma vida normal.
As vantagens
Durante a videolaparoscopia, o cirurgião consegue ver com detalhes os órgãos e outras estruturas. Como ocorre menos trauma nos tecidos do corpo, a pessoa sente menos dor após a operação e precisa ficar menos tempo deitada, diminuindo o risco de trombose e constipação intestinal. Além disso, há um baita ganho estético, já que não é necessário fazer um grande corte na pele.
As limitações
Nem sempre ela substitui a cirurgia aberta tradicional. Entre as restrições, estão infecções extensas dentro da barriga, obstrução intestinal e insuficiência cardíaca grave — o coração do paciente pode não aguentar a pressão do gás injetado no abdômen. Doenças pulmonares e cardíacas em geral, hérnias grandes e necessidade de múltiplas cirurgias podem contraindicar a técnica.
Onde a técnica atua
A cirurgia minimamente invasiva por vídeo é bem-vinda ao tratamento de problemas diversos:
Hérnias
São causadas por uma fraqueza da parede abdominal, que permite que parte das estruturas locais escapem, causando incômodos.
Miomas e endometriose
São massas anormais no útero, retiradas a depender do tamanho e da localização. A laparoscopia também trata a endometriose.
Pedra na vesícula e apendicite
A vesícula é removida quando se formam pedras ali. A técnica ainda pode tirar o baço com problemas e resolver casos de apendicite.
Pode ser aplicada em cerca de 60% dos tumores abdominais (estômago, fígado…) e permite retorno mais rápido a outras terapias.
Obesidade
A videolaparoscopia é empregada em cirurgias bariátricas, que promovem a redução do estômago e uma perda de peso acentuada.
Problemas articulares
A chamada artroscopia é utilizada para tratar articulações, tendões e cartilagens de regiões como joelhos, ombros e até mesmo mandíbula.