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Medicina

As maiores inovações brasileiras contra a Covid-19

Em um ano tão desafiador, o Prêmio Abril & Dasa de Inovação Médica revela os profissionais e instituições que se destacaram na luta contra o coronavírus

por Goretti Tenorio Atualizado em 18 dez 2020, 14h40 - Publicado em 18 dez 2020 14h31

A pandemia de Covid-19 já se tornou um daqueles momentos que dividem as águas da história. Mobilizou como nunca antes profissionais de saúde, cientistas, governos, empresas, veículos de mídia e tantos outros setores da sociedade na busca por minimizar e reverter as intempéries sanitárias e econômicas de um mundo acuado por um novo vírus.

Os desafios e os holofotes se voltaram sobretudo para aqueles que vestem um jaleco branco: médicos, enfermeiros e tantos outros profissionais na linha de frente, pesquisadores confinados em laboratórios, gestores quebrando a cabeça para evitar o colapso do sistema.

Essa luta envolveu desde conhecer a genética do Sars-CoV-2 até estruturar cidades para atender milhões de infectados — tudo isso num cenário de pausa de boa parte das atividades na tentativa de deter o patógeno.

No Brasil, onde o número de casos ultrapassou a casa dos 6,9 milhões em dezembro, com mais de 180 mil mortes, médicos e pesquisadores das mais diferentes áreas centraram seus esforços em combater a doença e salvar o maior número de pessoas. Desde as primeiras notícias sobre a pandemia, eles sabiam que teriam pela frente uma missão com muitos obstáculos a vencer, e o mais rapidamente possível.

Era preciso rastrear a presença do vírus e monitorar como ele se disseminava pelo país, ao mesmo tempo que se testavam remédios e estratégias para poupar a vida de quem precisava ser hospitalizado. Em outra frente, desatou-se uma corrida para sequenciar o genoma do agente infeccioso e bolar exames mais confiáveis. E foi assim que dispararam também as pesquisas com uma candidata a vacina — um sonho hoje tão próximo.

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Numa nação repleta de desigualdades como a nossa, também surgiu a premência de proteger os mais vulneráveis e pensar em soluções para quem sobreviveu à doença enfrentando sequelas.

Para homenagear os milhares de brasileiros que, de prontidão, se envolveram nessa batalha, e reconhecer aqueles que fizeram a diferença em meio a essa crise, os grupos Abril e Dasa lançaram o Prêmio Abril & Dasa de Inovação Médica – Edição Especial Covid-19. É a terceira edição da premiação, que tem a curadoria de VEJA SAÚDE.

Seu trajeto começa com a indicação de pesquisas, ações assistenciais e demais iniciativas realizadas por equipes de saúde do Brasil inteiro e que disputam nas cinco categorias estabelecidas. Em Inovação em Medicina Diagnóstica, concorreram projetos nas áreas de análises clínicas, patologia, radiologia e diagnóstico por imagem — relacionados não apenas à detecção da Covid-19 mas também aos seus reflexos pelo corpo.

A categoria Inovação em Genética, por sua vez, contemplou as investigações focadas em decifrar a complexidade molecular do Sars-CoV-2, para ajudar tanto na identificação quanto no manejo da doença.
Experimentos e campanhas capazes de reduzir a disseminação do vírus e prever a progressão e os desfechos da Covid-19 — a fim de direcionar inclusive as tomadas de decisão dos médicos — estiveram no centro da categoria Inovação em Prevenção.

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Já os projetos assistenciais ou educativos concebidos para promover o acesso dos cidadãos a recursos que os auxiliassem a atravessar com segurança a pandemia foram analisados em Inovação em Medicina Social. Por fim, em Inovação em Tratamento, foi reconhecido o esforço de profissionais e instituições para chegar ao melhor plano terapêutico ou de reabilitação para os infectados.

As dezenas de trabalhos submetidos à premiação foram avaliadas por um júri técnico, com alguns dos maiores nomes da ciência e da medicina brasileira — você irá conhecê-los ao longo desta reportagem. Eles julgaram o potencial disruptivo, o impacto, a abrangência, a aplicabilidade e o uso de tecnologia de todas as iniciativas. E a média das notas atribuídas por esse time de notáveis definiu o vencedor de cada categoria.

Inteligência artificial, biologia molecular, campanhas informativas, redes de atendimento formadas por centenas de voluntários, estudos clínicos com remédios e imunizantes, dispositivos de última geração… Foi ampla a gama de projetos que concorreram ao Prêmio Abril & Dasa de Inovação Médica – Especial Covid-19. Está na hora de você conhecer as ideias, as ações e os avanços que as equipes vencedoras promoveram para cuidar da saúde de nós, brasileiros.

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O corpo de jurados da premiação

Médicos e cientistas de diversas áreas de atuação e conhecimento participaram da avaliação dos trabalhos indicados ao prêmio em 2020.

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(Fotos: VEJA SAÚDE/SAÚDE é Vital)

Vencedor em Inovação em Prevenção

Com tantas e tão diversas manifestações da infecção pelo coronavírus, e diante de recursos finitos, muitas vezes as equipes médicas encaram um dilema: quem precisa ser acompanhado mais de perto, em ambiente hospitalar? E quando é possível indicar com segurança que a recuperação seja feita em casa? Para assessorar nessa decisão, cientistas da Faculdade de Saúde Pública da USP criaram a rede Inteligência Artificial para Covid-19 no Brasil (Iacov-BR).

“Usando as características clínicas do paciente coletadas no momento da triagem, logo após o resultado positivo para Covid-19, o algoritmo consegue apontar com alto grau de acurácia a provável evolução do quadro, ou seja, se essa pessoa vai precisar de ventilação mecânica, ser internada em UTI ou se é alto o risco de óbito”, explica Alexandre Dias Porto Chiavegatto Filho, um dos idealizadores da plataforma.

De posse dessas informações, o médico monta o plano terapêutico mais adequado para reduzir o risco de complicações. No Brasil, essa tecnologia pode ser especialmente útil na priorização de internações e monitoramentos em locais remotos, onde nem sempre se encontram especialistas, vagas e equipamentos hospitalares suficientes nos serviços públicos de saúde.

A equipe da USP se prepara agora para lançar um aplicativo, o RandomIA, que vai facilitar o acesso às análises mostrando em telas de celulares e tablets o prognóstico de cada caso contemplado.

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IACOV-BR: Inteligência Artificial para Covid-19 no Brasil
Autores: Alexandre Dias Porto Chiavegatto Filho, André Filipe de Moraes Batista, Gabriel Dalla Costa, Gustavo Sainatto, Ruchelli França de Lima, Roberta Wichmann, Tiago Almeida de Oliveira, Bruno Casaes Teixeira, Maria Eduarda Santana, Hellen Matarazzo, Felippe Lazar Neto, Carla Ferreira do Nascimento, Diego Pereira Barboza, Fernando Timoteo Fernandes, Mariane Furtado Borba e Thales Pardini
Instituição: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP)

infográfico do trabalho vencedor

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Vencedor em Inovação em Genética

Não é segredo para ninguém: nosso país enfrenta enormes dificuldades para testar massivamente a população na pandemia — sobretudo quando se trata de usar uma tecnologia de ponta capaz de detectar o material genético do Sars-CoV-2. Pois um dispositivo simples, portátil e de baixo custo desenvolvido por pesquisadores do Instituto René Rachou/Fiocruz Minas, em parceria com a empresa Visuri, promete ser uma alternativa para mudar essa história.

O OmniLAMP realiza testes moleculares — considerados o padrão ouro no diagnóstico da doença — em menos tempo e com a mesma precisão dos exames convencionais de RT-PCR. Diferentemente dos testes tradicionais, no equipamento todo o processamento acontece numa mesma temperatura, com o uso de um método chamado amplificação isotérmica medida por loop (LAMP, na sigla em inglês).

“Essa característica dispensa estruturas laboratoriais complexas, o que faz o custo do aparelho ser dez vezes menor”, explica o biólogo Rubens Lima do Monte Neto, do time da Fiocruz. “A primeira etapa é transformar o RNA do vírus em DNA, numa reação mediada por uma enzima chamada transcriptase reversa”, descreve. Aí a molécula precisa ser amplificada milhares de vezes para que possa ser visualizada tanto pelo software da máquina como pelo operador.

No OmniLAMP, o resultado final dessa amplificação é uma mudança de cor, que passa de rosa para amarelo quando o vírus está presente na amostra. A agilidade do processo, com duração de meia hora, é outro fator que contribui para a popularização dos testes moleculares e a elaboração de estratégias para controlar a dispersão do vírus.

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OmniLAMP: diagnóstico molecular em qualquer lugar
Autores: Rubens Lima do Monte Neto, Diógenes de Oliveira Alcântara, Flávio Diniz Capanema, João Pedro Augusto Alves, Paulo Linhares Velloso, Henrique Resende Martins e Angelo Zandona Freitas
Instituições: Visuri e Instituto René Rachou – Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Minas)

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(Infográfico: Thiago Lyra, Erika Onodera e Rodrigo Damatti/SAÚDE é Vital)
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Vencedor em Inovação em Medicina Diagnóstica

Pioneira na América Latina, a plataforma criada por cientistas do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da USP teve origem em um objetivo tão ambicioso quanto urgente: não apenas ajudar a detectar o coronavírus, mas prever os casos em que ele pode provocar mais danos. “Víamos pacientes chegarem com o pulmão comprometido, com insuficiência respiratória, mas com resultado negativo no teste para Covid-19 ou mesmo sem ter feito exame por falta de kits”, relata a radiologista Claudia da Costa Leite.

A solução da sua equipe foi criar uma base de dados de tomografias de tórax, disponibilizando acesso a médicos de todo o Brasil, e usar algoritmos treinados para fazer as análises. “De um hospital de campanha no Pará, por exemplo, o médico enviava a imagem e recebia o relatório”, conta a médica.

Batizada de RadVid19, a plataforma realiza em poucos minutos uma varredura em milhares de imagens e, por comparação, indica se as alterações de determinado paciente são compatíveis com quadros da infecção.

“O pulmão afetado tem áreas com o aspecto de vidro fosco e apresenta lesões específicas, mais periféricas”, explica Claudia. O algoritmo determina ainda qual porcentagem do órgão foi lesada, sinalizando a necessidade de internação ou tratamento mais intensivo. Em dezembro, entram em ação mais quatro algoritmos, estes desenvolvidos por startups brasileiras — dois deles são capazes de analisar também raios x, aumentando a abrangência do RadVid19.

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Projeto RADVID Inrad-HCFMUSP: Diagnóstico de Covid-19 através da análise de imagens radiológicas utilizando algoritmos de inteligência artificial
Autores: Claudia da Costa Leite, Marco Antônio Bego, Marcelo de Maria Félix, Bruno Aragão, Gustavo Meirelles, Marcio Valente Yamada Sawamura, Shri Krishna Jayanti, Diogo Leão, Cesar Nomura, Cleiton Caldeira e Giovanni G. Cerri
Instituição: Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Inrad-HCFMUSP)

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(Infográfico: Thiago Lyra, Erika Onodera e Rodrigo Damatti/SAÚDE é Vital)
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Vencedor em Inovação em Tratamento

Quando a Covid-19 mostra sua face mais severa, a pessoa infectada precisa passar bastante tempo acamada, muitas vezes em UTI. Em quadros assim, os longos períodos de imobilidade cobram um preço alto: fraqueza muscular, dores, paralisia dos membros, perda acentuada de peso — sem contar as repercussões cardiovasculares e as lesões por pressão castigando o corpo.

Para reverter esse processo, uma equipe do Instituto de Medicina Física e Reabilitação da Universidade de São Paulo (IMREA/USP) desenvolveu o Cicloergômetro Vida Inteligente. “Com a máquina, o paciente consegue se exercitar, mesmo estando inconsciente. Assim melhora a função respiratória e cardíaca por meio de um exercício natural, ainda que gerado artificialmente”, conta o fisiatra André Tadeu Sugawara, do grupo que desenvolveu o protótipo.

Tudo tem início quando eletrodos colocados nas pernas descarregam uma corrente elétrica, estimulando os movimentos. O aparelho vai registrando informações, como índice de cansaço e frequência cardíaca, o que ajuda o terapeuta a decidir se deve acelerar, desacelerar ou ainda se é preciso algum incentivo motivacional para dar continuidade.

“Testamos uma sequência infindável de combinações para chegar à melhor forma de estimular os músculos”, diz Sugawara. De acordo com os criadores, o cicloergômetro é a primeira etapa de um plano de transformação digital que aprimora tratamentos pela utilização de equipamentos de reabilitação inteligentes.

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Cicloergômetro Vida Inteligente e a transformação digital da reabilitação
Autores: Linamara Rizzo Battistella, Milton Oshiro (in memorian), Eduardo Yamanaka, Daniel Tamashiro, José Augusto Fernandes Lopes, André Tadeu Sugawara, Eduardo M. Dias, Maria Lídia Dias, Elcio Brito da Silva
e André Sernaglia
Instituição: Instituto de Medicina Física e Reabilitação (IMREA) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP)

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(Infográfico: Thiago Lyra, Erika Onodera e Rodrigo Damatti/SAÚDE é Vital)
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Vencedor em Inovação em Medicina Social

“As primeiras notícias sobre a pandemia já acenderam o alerta. As comunidades carentes estariam mais suscetíveis à infecção e precisavam ser protegidas”, recorda a médica Adriana Mallet Toueg, à frente da ONG Saúde, Alegria e Sustentabilidade Brasil (SAS Brasil), com sede em São Paulo.

Em operação desde 2007, a entidade imediatamente concentrou sua atuação no enfrentamento da Covid-19 nessa população, fomentando o uso de recursos digitais para diminuir a ida aos serviços de saúde e com isso refrear o contágio. Do lado de lá das telas, centenas de médicos e milhares de voluntários foram garantindo a ampliação da rede de atendimento.

Mas era preciso inovar e criar estratégias para amparar também aquelas pessoas com limitação de acesso à internet e pouca familiaridade com a tecnologia. Nasceu assim a ideia de desenvolver cabines de teleatendimento — duas delas instaladas na comunidade da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, e outra no Jardim Colombo, zona oeste da capital paulista.

O trabalho envolve a entrega de oxímetro na casa dos moradores diagnosticados com a doença, a fim de monitorar a oxigenação no sangue, um parâmetro importante para indicar complicações. “Pelo menos 1 milhão de pessoas foram impactadas com essa ação”, conta Adriana.

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A médica celebra ainda a possibilidade de colaborar para a formação em saúde digital de centenas de estudantes de medicina envolvidos com o projeto — o programa gerou tanta repercussão que motivou a assinatura de convênios com universidades. “Eles sairão dessa jornada mais preparados também numa perspectiva humanística”, conclui.

Telemedicina SAS Brasil e cabine de teleatendimento com desinfecção automática para comunidades carentes durante a pandemia do novo coronavírus
Autora: Adriana Mallet Toueg
Instituição: Saúde, Alegria e Sustentabilidade Brasil (SAS Brasil)

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(Infográfico: Thiago Lyra, Erika Onodera e Rodrigo Damatti/SAÚDE é Vital)
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