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O repórter André Biernath desenterra o passado e vislumbra o futuro da arte (e da ciência) da Medicina
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O passado da ciência nos guiará às descobertas do futuro

Autoras inglesas de um livro recém-lançado no Brasil contam histórias sobre a medicina antiga e apontam o caminho para os próximos grandes avanços

Por André Biernath
Atualizado em 11 jan 2018, 19h25 - Publicado em 21 dez 2017, 18h40

Num mundo em que o tempo é cada vez mais curto e os compromissos só se multiplicam, uma obra intitulada A História da Ciência para quem Tem Pressa (Editora Valentina) faz todo o sentido. Escrito pelas britânicas Nicola Chalton e Meredith MacArdle, o livro está dividido em capítulos temáticos e faz um sobrevoo sobre as mais variadas áreas do conhecimento científico: astronomia, matemática, física, química, biologia, geologia e, claro, nossa querida medicina. Em menos de 200 páginas, elas conseguem uma tarefa quase impossível: resumir as principais descobertas dos últimos milênios e os gênios por trás delas.

Após devorar o livro, resolvi mandar umas perguntas para a dupla, que gentilmente me respondeu por e-mail. Você confere o nosso bate papo virtual abaixo:

Qual a importância de as pessoas saberem mais sobre a história da ciência?

A história da ciência nos mostra o quanto já aprendemos e quantas coisas ainda faltam para serem aprendidas. Nosso conhecimento sobre o mundo de hoje é baseado em avanços da que ocorreram durante o último milênio. Ideias sobre o comportamento da natureza foram levantadas por indivíduos curiosos e, claro, essas observações iniciais foram então testadas por outras gerações para comprovar as hipóteses originais.

Isso nos mostra como a mente humana é engenhosa e o tamanho das possibilidades para o futuro. Isaac Newton (1643 – 1727) dizia que “conseguiu ver mais longe pois estava apoiado nos ombros de gigantes”. Com essa frase, um dos maiores físicos e matemáticos de todos os tempos nos lembra como saber história da ciência é importante para qualquer um.

Quais são as maiores lições que o passado da ciência traz sobre o presente e o futuro de nosso planeta?

A principal e mais óbvia delas é que as teorias científicas mudam com o tempo. O que sabemos hoje é diferente daquilo que as pessoas acreditavam há alguns séculos. Do mesmo modo, o conhecimento será outra coisa no futuro.

A possibilidade de mudança nos paradigmas da ciência aumenta dramaticamente quando um novo conhecimento se espalha e beneficia um número maior de pessoas. Os grandes avanços estão relacionados a fatores externos, como  guerras e alterações climáticas. Ou seja, podemos esperar novidades num compasso cada vez mais veloz daqui para a frente.

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Vocês acreditam que pesquisar sobre o passado remoto da medicina, como nos manuscritos gregos, chineses e indianos, pode levar à descoberta de novos tratamentos?

Sem dúvida. Por mais que tenhamos uma quantidade enorme de novas informações sobre as doenças, existe uma série de observações da natureza que permanecem iguais há milênios. Um exemplo são as descobertas de Claudio Galeno, que nasceu na Turquia no ano 129 d.C., estudou na Grécia e trabalhou como médico para os imperadores romanos Marco Aurélio (121 – 180), Cómodo (161 – 192) e Sétimo Severo (145 – 211). Ele criou a metodologia experimental e observou de forma pioneira a anatomia de animais dissecados. Galeno ainda foi o primeiro a demonstrar que a urina era produzida pelos rins, e não pela bexiga, e que as artérias carregavam sangue.

A história da medicina chinesa, por sua vez, tem mais de 2 500 anos. No Ocidente, ela ainda é encarada como um complemento em relação a tratamentos principais. Suas vertentes incluem terapias com ervas, acupuntura e massagem. Além disso, ela sempre esteve mais preocupada com os processos fisiológicos da digestão, da respiração e do envelhecimento do que com processos anatômicos.

A saúde é considerada como uma interação harmoniosa com entidades de outros mundos, assim como as doenças são interpretadas como uma falta de harmonia. Esse tipo de pensamento é muito bem-aceito, principalmente pela longevidade do povo chinês e pela sua natureza não-invasiva. Porém, mais pesquisas são necessárias para comprovar os seus efeitos.

Nesse sentido, remédios da cultura popular devem ser tratados com precaução, mas algumas vezes existe um conhecimento ancestral por trás de seu uso. Há uma série de exemplos de drogas tradicionais que levaram a grandes descobertas científicas. Provavelmente, todo mundo já tomou alguma vez na vida uma aspirina. Nossos ancestrais também ingeriram uma forma primitiva desse remédio ao utilizarem uma planta chamada salgueiro para tratar dores de cabeça e outros problemas inflamatórios.

Essa árvore contém salicilato, a base para a fórmula química da aspirina moderna. O fato de o salgueiro ser mencionado em antigos manuscritos sumérios e egípcios serviu de pista para químicos do século 19 desenvolverem o comprimido branco tão popular nas farmácias.

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Outro caso recente é o da cientista chinesa Tu Youyou, que descobriu a artemisina, o tratamento mais efetivo para malária, após testar uma série de ervas usadas na medicina tradicional de seu país. Não à toa, ela ganhou o Prêmio Nobel de Medicina.

Qual a história da medicina que vocês consideram mais curiosa no livro?

Várias das histórias iniciais de prevenção e tratamento de muitas condições humanas se mostraram bastante erradas. Muitas dessas ideias são hoje consideradas bizarras ou até perigosas.

Por exemplo, a prática da trepanação, ou seja, abrir buracos no crânio dos pacientes. Isso era feito para liberar espíritos malignos ou para drenar feridas e infecções. Outro tratamento curioso era a prática de utilizar ratos mortos para curar coqueluche, sarampo, varíola e até verrugas no período elisabetano inglês (no século 16).

Era comum também que pessoas da Idade Média se autoflagelassem como forma de se livrar de uma série de doenças. Antes da epidemiologia moderna, a teoria para explicar muitas das enfermidades fatais era o “miasma”, uma espécie de vapor que se espalhava pelo ar.

Na Guerra da Crimeia, de 1853 a 1856, uma enfermeira chamada Florence Nightingale (1820 – 1910) trabalhou incessantemente para provar que a limpeza nos hospitais era essencial para extirpar o tal do miasma. Sem querer, as melhoras na higiene permitiram controlar algumas infecções ao cortar a transmissão de micro-organismos de pessoa para pessoa.

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Eu fiquei particularmente fascinado pela biografia de Rasis (854 – 925), o primeiro pediatra da história. Como vocês acham que esse tipo de passagem ajuda a tornar o livro mais interessante para diversos públicos?

Rasis foi um médico iraniano do século 9 que se tornou o pai dos pediatras. Ele representa para o mundo islâmico o mesmo que Hipócrates significa para a medicina Ocidental. A história dele é maravilhosa não apenas por suas habilidades incríveis e suas conquistas profissionais, mas também por sua abordagem nada ortodoxa. Seu conhecimento intuitivo da psicologia humana permitiu que ele descobrisse uma nova maneira de encorajar um emir aleijado por uma artrite severa a usar suas pernas para voltar a andar.

Os leitores ficarão emocionados ao saber mais sobre sua generosidade com os pobres e seu interesse pelo lado filosófico da vida. Nosso livro tem esse objetivo, de trazer à tona a vida desses grandes cientistas. Eles estiveram na vanguarda das grandes descobertas. Quem sabe isso não motive as pessoas a pesquisarem mais e mais sobre esses assuntos?

A história da ciência está relacionada com experimentos pra lá de esquisitos, como o que Edward Jenner (1749 – 1823) fez para desenvolver a primeira vacina da história. Como essa ciência “errada” ajudou a produzir conhecimento na medicina?

Um outro exemplo desse conceito de ciência errada vem da Alemanha no século 17, com o químico Hennig Brand (1630 – 1710). Ele procurava pela “pedra filosofal”, ou seja, uma técnica de transformar qualquer metal em ouro.

Brand era obcecado em usar como material básico de sua pesquisa a urina. Embora nunca tenha encontrado a pedra filosofal propriamente dita, ele descobriu o fósforo, o primeiro elemento químico descrito desde os tempos antigos. Estamos falando de um composto essencial para a vida.

Similarmente, o americano Benjamin Franklin (1706 – 1790) foi “sortudo” ao eletrocutar a si mesmo quando empinou uma pipa com uma chave de metal durante uma tempestade de raios. Esse experimento ampliou o conhecimento que se tinha sobre a eletricidade, que é a base de nosso mundo moderno em muitas áreas.

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Que descobertas recentes vocês acham que serão citadas numa eventual edição do livro de vocês no século 22?

O próximo século sem dúvida irá incluir o desenvolvimento de carros elétricos ou híbridos. Muito progresso já foi feito nessa área pelas montadoras automobilísticas. Elas já conseguem produzir modelos viáveis. Vemos avanços impressionantes na capacidade das baterias.

Além disso, outro fato que vai marcar nossa época é a redução no uso de combustíveis fósseis, principalmente nas nações mais desenvolvidas. As alternativas energéticas no ar, na água e no sol são muito importantes. A tecnologia médica também evolui rapidamente e no próximo século com certeza veremos outras doenças serem erradicadas ou controladas.

E quais são os  desafios da ciência nos dias de hoje?

Uma das grandes barreiras está em priorizar o acesso a dados que mudam a vida das pessoas. Falamos de uma quantidade imensa de informação. Devemos extrair delas fatos importantes, senão elas começam a se tornar irrelevantes.

Uma de nossas melhores fontes na área médica são dados coletados ao longo de 50 anos pelo serviço de saúde pública do Reino Unido, por exemplo. O problema é que muitas informações negativas (como estudos que não chegam a um resultado desejável) não são publicadas, assim como as informações produzidas por grandes empresas ficam sigilosas para reduzir a competitividade da concorrência.

Especificamente na área da saúde, outro grande desafio é encontrar alternativas aos antibióticos. Muitos desses remédios nem funcionam mais. O uso excessivo deles nas últimas décadas permitiu que as bactérias se transformassem e criassem resistência. Isso é catastrófico para a humanidade. Um progresso então seria o uso racional dessa classe de drogas para evitar que a situação se agrave ainda mais.

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A História da Ciência para Quem Tem Pressa
(Divulgação/SAÚDE é Vital)

 

A História da Ciência para Quem Tem Pressa
Nicola Chalton e Meredith MacArdle
Editora Valentina
196 páginas
R$34,90

 

 


Pessoal, esse foi a última reportagem do blog em 2017. Foram 14 textos que abordaram os mais diversos assuntos – de Donald Trump e suas sandices ao bizarro transplante de cabeça proposto por um cirurgião italiano. Espero que vocês tenham gostado! Agradeço a audiência, a atenção e todas as curtidas, compartilhamentos e comentários. Em 2018 tem muito mais!

Deixe aí embaixo o seu comentário e me siga no Facebook e no Twitter para ver mais conteúdos!

 

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