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Como mudei minha vida fazendo crossfit

Nossa designer Laura Luduvig compartilha sua trajetória como praticante de crossfit e conta de que forma o exercício a ajuda a se superar no dia a dia

Por Laura Luduvig, designer e praticante de crossfit*
21 nov 2024, 09h20
crossfit-exercicio
Treinos de crossfit pode beneficiar o corpo e mente dos praticantes (Pedro Costa/Veja Saúde)
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“Você não vai acreditar. O único lugar no caminho de casa é um box de crossfit”, eu disse à minha amiga. “Por que você não dá mais uma chance?”, ela rebateu. E foi assim, com o pé atrás, que comecei a fazer a atividade física que transformaria minha vida.

No início, tive medo e fui, mas querendo não ir. Anos depois, posso dizer que a insistência em procurar um exercício que fizesse sentido para mim mudou até minha relação comigo mesma. Sim, hoje tenho mais confiança e lido melhor com as minhas metas, limites e sombras.

Essa mudança de rota ocorreu aos meus 21 anos. Depois de um tempo de academia, perdi o gosto por treinar. Achava aquilo monótono: entrar num lugar cheio, esperar minha vez nos aparelhos, repetir as séries… Sem orçamento para personal trainer, me sentia desmotivada e solitária ao enfrentar o canto sedutor do sedentarismo.

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Andava cansada também: saía de casa às 6 horas da manhã para estudar, almoçava em 15 minutos, corria para o estágio e, às 19 horas, o circuito de volta para casa começava. Mas percebi que o horário do rush podia fornecer uma pausa estratégica para eu voltar a me exercitar.

Eu buscava algum tipo de treino em grupo, mas que não envolvesse necessariamente um time, como basquete ou voleibol, pois queria ter minha independência.

Limitei minha busca ao trajeto do último ônibus que pegava para ir pra casa. Pesquisei, pesquisei e pesquisei. O que mais se alinhava com os meus desejos — e fatores limitantes — era um box de crossfit localizado na mesma rua do terminal.

Vou ser bem honesta: já havia feito uma aula experimental um ano antes e saí sem vontade de retornar. Liguei para uma amiga que praticava a modalidade e ela me incentivou a testar mais uma vez. Quem sabe num lugar novo a experiência seria diferente.

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Com a cara e a coragem, entrei em um ambiente que imaginava ser hostil. Muitas pessoas treinando sem camisa, cara de bravas, música alta… Me ofereceram três treinos na faixa para conhecer aquele mundo. Topei, já menos assustada. E fui tão bem acolhida pelos demais alunos e instrutores que me encontrei.

O crossft acabou ganhando meu coração. Para quem não sabe, crossft é uma modalidade de alta intensidade que combina elementos de diferentes esportes — levantamento de peso, ginástica e exercícios funcionais. É baseada numa comunidade que, ao promover o espírito de equipe, incentiva os praticantes a superar seus limites e apoiar uns aos outros.

Além de melhorar o condicionamento físico, o crossft promove flexibilidade e resistência para os afazeres da vida e se pauta por um casamento com a nutrição, o repouso e a mentalidade positiva.

Logo no começo, minha autoconfiança deu um salto. Alcançava meus objetivos estéticos e de treino com suor, mas de forma leve e até lúdica. A gente se diverte treinando ao lado de amigos.

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Meu sono melhorou, minha alimentação mudou — adotei o “comer bem para treinar bem” — e me sentia disposta para qualquer parada, inclusive as tarefas de casa. Mas dava para desenrolar ainda mais essa lã…

Então um coach me chamou de lado e disse que eu tinha potencial para competir, se fosse do meu agrado. Fiquei feliz e passei a me empenhar ainda mais, participando de uma competição pequena aqui, outra acolá.

Me juntei a um grupo de alunos com o mesmo objetivo e passamos a treinar juntos de forma mais pesada. Sim, o crossft ganhou importância e seriedade em minha vida. A diversão cedeu espaço à disciplina. Se o combinado comigo mesma era treinar de segunda a sábado, eu ia de segunda a sábado.

Queria meu corpo pronto para aguentar o que precisava ser feito e ter uma boa performance. Uns anos depois, decidi ir além, e passei a treinar, com planilha e suporte de outros profssionais, para estar à altura de uma atleta da modalidade.

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Aprendi quão essenciais são o sono e o descanso, a lidar com os desconfortos físicos e a administrar a mente em situações em que cada segundo dentro de uma prova faz diferença. Realmente, você precisa se conhecer para evoluir. Inclusive emocionalmente.

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No crossfit, cada pessoa leva a mesma prova ou o mesmo wod — o workout of the day, que se refere ao treino do dia — de um jeito diferente. Uma estratégia que funciona pra mim dificilmente vai funcionar para você. Cada um tem seus pontos fortes e suas deficiências — e a gente deve usá-los ou superá-las com inteligência.

A sabedoria de quando arriscar ou não, que ritmo manter, quantas repetições tentar… O corpo aguenta muito mais do que a mente imagina, mas, se a mente não está em um dia bom, ela o convence a desistir muito antes do seu limite.

Não é clichê: você é seu melhor aliado, mas também seu pior oponente. E, a exemplo do empenho e da entrega, a aceitação também é cultivada. Até porque aprendemos com os erros, as derrotas, as dores. E é assim que o crossfit se torna, até certo ponto, uma prática meditativa.

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Quando você treina ou compete, o mundo ao redor se aquieta. Nada mais importa. Você se conecta consigo mesma. E é por isso que digo que a sabedoria dessas horas de treino passa a ser aplicável a outras esferas da vida.

Um dia me perguntaram se eu não sentia dor depois de treinar tanto. Eu disse que sim, e continuaria treinando e me cuidando. Pois a filosofia é esta: o treino precisa ser feito. Não precisa ser perfeito. Tenho que dar o meu melhor com o que tenho no dia. Pode ser 100 ou 20% da energia total. E isso a gente leva pra vida.

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Por essas e outras é que brinco que o crossfit é meu laboratório particular, onde aprendo muito sobre a vida, um espaço seguro para testes e erros, uma arena própria para encarar minha cobrança por perfeição.

O crossft me aterra e me ajuda a desamarrar os nós que minha sombra amarra com força titânica. E, aos poucos, fui entendendo, de forma mais perceptível e palpável, que a alegria não vem só com o título de campeã; ela está no processo, na viagem em si.

O pódio dura poucos minutos. As lições, as experiências e as amizades carregamos para sempre. Num lugar que eu achei um dia tão hostil, encontrei a metade da minha laranja — meu companheiro de treinos e da vida — e uma aventura à base de movimento, suor, paixão, autoconhecimento e amor-próprio. Não há melhor medalha do que essa.

* Laura Luduvig é designer e ilustradora de VEJA SAÚDE, além de praticante de crossft desde 2019.

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