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O papel da pesquisa clínica para o desenvolvimento do sistema de saúde

Médico discorre sobre a importância dos estudos controlados com seres humanos para aprimorar o ecossistema de saúde de um país

Por Regis Goulart Rosa, médico e pesquisador*
6 jan 2021, 13h46
foto de tubos de ensaio
Pesquisa clínica é crucial ao desenvolvimento de novos exames, condutas e tratamentos médicos.  (Foto: GI/Getty Images)
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A pesquisa clínica é um dos pontos prioritários para a melhoria da saúde de uma nação. Há uma forte correlação entre o nível de investimento em estudos e o grau de desenvolvimento de um sistema de saúde. No entanto, para que uma sociedade possa se beneficiar de uma medicina baseada em evidências, devemos dedicar esforços para a formação e a retenção de pesquisadores, além de conduzir trabalhos que respondam a questões pertinentes ao nosso contexto socioeconômico.

Parcerias público-privadas, como o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), são exemplos a serem seguidos para que possamos fortalecer a pesquisa clínica no Brasil. Seu papel como força motriz de sistemas de saúde nos países em desenvolvimento tem sido ressaltado pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS).

Estudos bem delineados e conduzidos na área contribuem para o aumento da adoção de práticas baseadas em ciência, facilitando o acesso a terapias efetivas e minimizando a utilização de tratamentos sem benefícios concretos ou potencialmente danosos. Sob a ótica dos gestores, o desenvolvimento da pesquisa clínica pode contribuir para uma política de saúde mais custo-efetiva, propiciando o uso racional de recursos.

Contudo, para transformarmos todo esse anseio pelo fortalecimento da pesquisa clínica em realidade, enfrentamos alguns obstáculos, como a escassez de profissionais qualificados para conduzir não apenas os estudos que vêm de fora, mas também para desenvolver investigações relevantes no contexto local. Segundo o Instituto de Estatística da Unesco, menos de 30% dos pesquisadores do mundo trabalham em países em desenvolvimento, fato que contribui substancialmente para o aumento progressivo do gap em saúde entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento.

A formação e a retenção de recursos humanos qualificados é um dos pilares do Plano de Ação de Pesquisa Clínica, do Ministério da Saúde, constituindo um dos propósitos da parceria firmada entre o Hospital Moinhos de Vento e o ministério. Por meio do Proadi-SUS, são executados projetos de educação que vão ao encontro do DNA da instituição, que prioriza a qualificação de profissionais para o enfrentamento dos inúmeros desafios existentes nos sistemas de saúde, sejam eles públicos ou privados.

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O projeto Capacitação e Formação em Pesquisa Clínica, por exemplo, disponibiliza cursos presenciais e à distância e gratuitos, direcionados a profissionais que atuam ou desejam atuar com pesquisa em todo o país.

No Proadi-SUS, também são desenvolvidas iniciativas de pesquisa clínica que buscam trazer respostas a questões pertinentes ao SUS. Um exemplo é o estudo DONORS, que avalia se a utilização de uma intervenção de baixo custo — um checklist baseado nas recomendações mais atuais para o cuidado clínico do doador de órgãos — pode contribuir com a redução das perdas de potenciais doadores de múltiplos órgãos por parada cardíaca. Este é um problema prioritário enfrentado pelo nosso Sistema Nacional de Transplantes, cuja solução pode resultar em maior benefício para aqueles que aguardam na fila por um novo órgão.

Outro estudo liderado pelo Moinhos e que está alinhado à Política Nacional de Humanização – HumanizaSUS é o UTI Visitas, que desenvolveu, implementou e avaliou o modelo de visitas ampliadas em Unidades de Terapia Intensiva brasileiras. O projeto buscou desenvolver um modelo seguro, exequível e eficaz para possibilitar um maior contato de pacientes com seus familiares e, assim, melhorar desfechos clínicos.

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O resultado não poderia ter sido melhor: a pesquisa mostrou que a visita ampliada de 12 horas na UTI, suportado por ações educativas junto aos familiares, reduziu em 50% os sintomas de ansiedade e depressão nos familiares, além de se mostrar extremamente seguro e benéfico aos pacientes.

Os mesmos dados também embasaram a criação de um Projeto de Lei no Distrito Federal que passou a autorizar a permanência de acompanhantes em UTIs de hospitais públicos e privados na capital federal.

Esses são apenas alguns exemplos que mostram o poder de parcerias estruturadas como o Proadi-SUS para o desenvolvimento da pesquisa clínica no Brasil. O potencial de crescimento sustentável da pesquisa no país por meio de iniciativas como esta irá contribuir significativamente para o SUS alcançar o status de excelência que os brasileiros merecem.

* Regis Goulart Rosa é médico intensivista e pesquisador do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre

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