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Mariana Del Bosco é nutricionista expert em alimentação infantil e mãe da Alice e da Isabel. Por aqui ela traz as lições da ciência e da experiência (de casa e do consultório) para a criançada comer melhor
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12 passos para uma introdução alimentar de sucesso

Essa pode ser uma das fases mais gostosas e desafiadoras da infância. Nossa colunista prepara um guia para você curtir o momento e adequar as necessidades

Por Mariana Del Bosco
Atualizado em 30 nov 2021, 19h22 - Publicado em 5 nov 2021, 10h42

Se você tem um bebê em casa, já deve ter recebido inúmeros palpites sobre a fase da introdução alimentar. “Na minha época, a gente começava com suco de laranja-lima”; “Criança precisa de açúcar para ter energia”; “Deixa experimentar! Não pode passar vontade”; “Coloca sal para a comida ficar gostosa”…

São dicas frequentes e, embora a nutrição seja uma ciência, a alimentação diz respeito a práticas, hábitos e tradições da comunidade. Ainda que a história e os costumes pesem, as condutas propostas pelos nutricionistas são pautadas por evidências científicas a fim de garantir os nutrientes adequados a cada fase da vida.

Como profissionais de saúde, nutricionistas e pediatras se baseiam em estudos e mais estudos, que dão origem às diretrizes nacionais e internacionais, um guia para orientar pacientes e famílias da forma mais segura e apropriada possível. Daí o rigor necessário em certas recomendações, e a contínua revisão pela qual elas passam. A nutrição está em constante evolução: assim, uma orientação dada há 20 anos nem sempre é a mesma hoje.

Essa reflexão se faz necessária para trazermos à tona a introdução alimentar, quando o bebê passa a experimentar a comida após os 6 meses de idade, sem deixar de receber o leite materno. Como comer é um ato social, valores e culturas se misturam a essa etapa de descobrimento de texturas, cheiros e sabores. Ora, o brasileiro se identifica com arroz e feijão, o mineiro com pão de queijo, o baiano com acarajé, e por aí vai. Cada família traz particularidades e essa representatividade ao seu núcleo.

O bebê, ao ser alimentado, recebe comida para, então, aproveitar seus nutrientes. Então, em vez de falar de ingredientes e substâncias isoladas, não faria mais sentido começar essa conversa pela comida? Parto do princípio de que a introdução alimentar é um processo de aprendizagem pelo qual a criança inicia seu relacionamento com os alimentos.

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Até o primeiro ano de vida, o aleitamento materno continuará sendo a principal fonte de energia e de nutrientes, e isso traz a tranquilidade necessária para curtir as primeiras experiências do bebê à mesa sem tanta neura. Eu poderia trazer aqui um cardápio calculado para contemplar as demandas nutricionais da faixa etária, mas tenho certeza de que não seria uma ferramenta aplicável para a maioria, geraria frustrações na prática e engessaria o processo. Até porque cada família e cada cultura trazem ingredientes próprios nesse percurso.

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Proponho, em vez disso, um pequeno guia em doze passos que pretende trazer respostas simples para questões complexas e equilibrar conselhos e informação amparada em ciência para a construção de um hábito alimentar saudável. Lanço mão das principais diretrizes atuais sobre o tema, mas é preciso que cada família se veja no centro desse processo que tem o bebê como protagonista.

Passo 1

Um hábito é sempre adquirido e a criança aprende por imitação. Assim, minha primeira sugestão é que a família revisite seu cardápio e verifique se algo pode ser melhorado. Priorizamos, para a dieta do bebê, alimentos in natura como frutas, legumes, tubérculos, cereais, grãos, carnes e ovos, e são eles que devem ser também a base da dieta dos adultos.

Passo 2

Comer bem exige planejamento. Por isso, aconselho que você organize a lista de compras para adquirir e disponibilizar um menu variado e equilibrado. É importante que o bebê faça as refeições com a família. Então organize os horários da casa para que todos estejam juntos à mesa no maior número de refeições.

Também é preciso organizar o ambiente. Nada de outro mundo: cadeirão bem posicionado, copinho para água, pratinho e colher rasinha e pouco côncava, numa postura que dê acesso e permita interação com os alimentos.

Passo 3

Ajuste suas expectativas e responsabilidades. Alguns bebês estarão mais prontos e interessados e outros vão se animando com o tempo. Vale repetir, como mantra, que o leite materno (ou a fórmula infantil, quando o bebê não é amamentado) supre grande parte das necessidades de energia e de nutrientes no primeiro ano de vida e segue importante até os 2 anos ou mais.

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Com o tempo, o bebê vai percebendo que comer também sacia. A nutricionista americana Ellyn Satter propôs a chamada “teoria das responsabilidades”, útil para entender quem faz o quê nesse processo de descoberta.

A família tem a responsabilidade de prover os alimentos, de ofertar numa porção adequada, de determinar os horários em que as refeições serão servidas e de organizar o local em que elas acontecem. À criança, cabe a responsabilidade de determinar a quantidade que vai comer e se vai comer. Essa teoria nos ajuda a responder questões como: se a criança virar o rosto e empurrar a colher, devo insistir? Posso distraí-la com a televisão enquanto come?

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Passo 4

Facilite a rotina doméstica. O Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde recomenda, para crianças com menos de 2 anos, que o bebê coma a comida da família, desde que ela seja saudável e tenha a textura adequada. Na prática, isso significa às vezes ter de amassar com um garfo um alimento sólido mais difícil de mastigar.

Com relação ao sal, o manual sugere que a comida da família toda seja feita com uma quantidade mínima, e aí o bebê pode consumi-la (a Sociedade Brasileira de Pediatria, porém, só libera o sal a partir do primeiro ano de vida).

Usar técnicas de congelamento é uma boa pedida, pois não compromete a preservação dos nutrientes. Nessa linha, o branqueamento é uma tática bem-vinda que consiste em cozinhar os vegetais por pouco tempo e dar um choque térmico com água gelada e gelo, para brecar a cocção, e congelar na sequência. A comida fresca pode ser armazenada em geladeira, com segurança, por dois dias.

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Passo 5

Informe-se muito, conheça todos os métodos de introdução alimentar, mas lembre-se de que o bebê conduzirá o processo. Tem famílias que preferem a abordagem tradicional, com comida amassada no pratinho, e o bebê surpreende querendo explorar tudo sozinho. Outras se preparam para o BLW, técnica em que são ofertados alimentos para o bebê comer com autonomia, e descobrem que o pequeno gosta de receber o alimento na colher. O importante é que a família esteja segura, tranquila e responsiva, e que a criança faça registros positivos dessas experiências.

Passo 6

Escolha o melhor momento. Na hora de comer, o bebê não deve estar cansado, com sono, irritado, com fome demais ou, ao contrário, muito saciado. O aleitamento materno segue em livre demanda, inclusive antes ou depois da refeição principal. A fórmula infantil, entretanto, não deve ser ofertada depois do almoço e do jantar para não atrapalhar a absorção de nutrientes. O ideal é que haja um intervalo mínimo de uma hora e meia.

Passo 7

Adapte os alimentos à aquisição de habilidades dos bebês. Começamos com alimentos amassados na colher, ou inteiros e macios, de forma que o bebê possa pegar com a mão, levar à boca e amassar entre a língua e o céu da boca.

Com o tempo, a oferta vai cada vez mais se aproximando à textura dos alimentos servidos para a família. Alimentos duros e esféricos devem ser evitados, por conta do risco de asfixia. Adeque o corte das uvas e do tomate-cereja, amasse o grão-de-bico, evite pipoca e castanhas e tenha atenção com o caroço das frutas

Passo 8

Oferte alimentos in natura como frutas, verduras, legumes, cereais, grãos, carnes, peixes e ovos (gema e clara liberadas!). E passe longe dos ultraprocessados (salgadinhos, bolachas industrializadas, macarrão instantâneo etc.) No primeiro ano de vida, há ainda a recomendação de evitar sucos e preferir frutas. Açúcar e doces não devem ser ofertados até os 2 anos de idade.

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Passo 9

Frutas e outros vegetais que serão consumidos crus podem ser lavados em água corrente e esfregados com uma escovinha. Depois disso, podemos deixá-los numa solução clorada (1 litro de água com uma colher de sopa de hipoclorito a sódio a 2%) por 15 minutos e finalizar lavando-os um a um novamente.

+ LEIA TAMBÉM: Cadê o suco de laranja-lima do bebê?

Passo 10

Ofereça alimentos variados para que a criança possa ter contato com diferentes sabores, texturas e nutrientes. Os pigmentos dos alimentos são importantes indicadores de suas características, por isso é válido pensar numa dieta colorida.

Monte o pratinho do almoço e do jantar com 4 ou 6 grupos coloridos (vegetal verde, vegetal de outra cor, cereais, tubérculos, grãos e carnes/ovos). Você pode utilizar temperos naturais como alho, cebola, salsão e ervas em geral, além do óleo vegetal ou azeite (que também pode ser aquecido).

Passo 11

Comece devagar. Escolha um alimento em uma refeição. À medida que o bebê for se habituando, curtindo o processo e que o organismo for se acostumando a fazer a digestão e a absorção dos alimentos sólidos, vamos aumentando os tamanhos das porções e o número de refeições.

Passo 12

Não monte um pratão logo de cara. O esperado é que o bebê comece comendo pouquinho, algo em torno de uma colher de sopa, e vá progredindo no volume das porções. Há quem coma menos e há quem coma mais. Procure não fazer comparações. Cada criança é única!

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Com esses 12 passos, espero ter ajudado a clarear algumas dúvidas comuns sobre a introdução alimentar. Mas não acabou ainda…

Faixa bônus

Se você ainda não sabe com qual alimento vai iniciar a introdução alimentar, minha dica é escolher algo que aparece frequentemente em casa e que a mãe consumiu bastante durante a gestação e e amamentação. Talvez as nuances dos sabores já sejam conhecidas e, quem sabe, teremos mais chances de sucesso. Se não rolar, tudo bem! Teremos muitas oportunidades para criar um bom repertório alimentar.

Em tempo: Se houver qualquer dificuldade no processo de introdução alimentar, não hesite em buscar o apoio do pediatra que acompanha a criança e/ou de um nutricionista que tenha experiência com bebês e crianças.

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