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Raquitismo: o que há de novo nessa doença tão antiga

Novos tratamentos contra uma versão rara do raquitismo estão melhorando muito a qualidade de vida dos pacientes, como mostra um especialista

Por Mauro Borghi, médico pediatra*
Atualizado em 14 set 2020, 16h16 - Publicado em 14 set 2020, 09h59

Na minha área de estudo, sempre existe algo atual — mesmo sobre as coisas mais antigas. O raquitismo como doença é conhecido desde o Império Romano. Por volta do ano 100, Soranus e Galeno já descreviam as importantes deformidades ósseas da doença. Em 1650, Francis Glisson publicou o primeiro tratado sobre o raquitismo.

Mas, acredite se quiser, um novo tipo do problema foi descoberto recentemente: é o raquitismo hipofosfatêmico ligado ao cromossomo X, também conhecido como XLH. Essa versão não é originada por falta da vitamina D, como estamos mais acostumados.

O XLH é causado pela deficiência de fosfato, um mineral necessário para a formação do esqueleto e dos dentes, para a composição do DNA e para a produção de energia no organismo. A enfermidade atinge principalmente os ossos, deixando-os fracos e predispostos a envergar.

Muitos pais de pacientes recentemente diagnosticados com XLH me falam: “Se os meus filhos são bem cuidados, por que estão com essa doença?” A indagação se deve ao fato do raquitismo via de regra estar associado à desnutrição. Mas nem sempre é assim.

O XLH é uma doença genética. Ela é marcada pela perda de fosfato através do rim e pelo aumento de um hormônio produzido pelos ossos ligado ao fator de crescimento (FGF23) em razão de uma alteração no DNA. Ou seja, nascemos com ou sem esse tipo de patologia.

Suas principais manifestações clínicas são baixa estatura e importantes deformidades ósseas, além de outras pouco valorizadas, como abscessos dentários espontâneos, dificuldade para andar, dor muscular e fadiga crônica.

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A patologia conta com uma prevalência aproximada de 1 a 9 casos para cada 1 milhão de pessoas, de acordo com o Orphanet — um site de referência mundial quando o assunto envolve doenças raras. No Brasil, não há dados epidemiológicos sólidos que indiquem a quantidade exata de pessoas afetadas. Contudo, os diagnósticos realizados aqui, nos Estados Unidos e na Europa condizem com os números de prevalência que eu mencionei logo acima.

O tratamento dessa doença ultrarrara visa a normalização do fósforo no sangue. O paciente recebe doses elevadas de fosfato e de vitamina D, administradas via oral, por meio da ingestão diária de inúmeros comprimidos. Isso pode causar desconforto abdominal e gástrico e impactar a aderência do tratamento.

Hoje em dia, é sabido que essa reposição — além de não ser uma solução definitiva — pode trazer complicações para o paciente, como o depósito de cálcio nos rins. Em certas situações, isso leva à insuficiência renal crônica.

O fato é que, a cada descoberta científica, nos confrontamos com novos tratamentos, pesquisas e possibilidades. A bem da verdade, o XLH já era um alvo inconsciente de estudos envolvendo tratamentos antes mesmo de ser descoberto. Há 20 anos, as pesquisas com medicamentos altamente precisos, que atuam exatamente em um problema molecular, já esbarravam no tema. Era o novo normal da ciência abrindo um leque de opções para diversas doenças — entre elas, o XLH.

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Eis que, em 2019, um novo fruto dessas investigações surgiu contra esse tipo de raquitismo: o burosumabe. O princípio ativo, já aprovado no Brasil, é um anticorpo que atua diretamente na causa da doença, preenchendo a lacuna deixada pela genética e estabelecendo um novo paradigma para pacientes que até então não imaginavam a vida sem as doses diárias de fósforo e vitamina D.

A administração da terapia é subcutânea. Na fase pediátrica, acima de um ano de idade, a aplicação do burosumabe é realizada a cada 15 dias. Já nos adultos, uma vez por mês. É uma droga muito promissora e as respostas iniciais dos pacientes têm sido excelentes.

O diagnóstico também evoluiu. Hoje em dia temos a possibilidade de confirmá-lo por exames de biologia molecular. Graças a isso, há como iniciar o tratamento mais precocemente, evitando, muitas vezes, cirurgias ortopédicas desnecessárias.

O que a gente se dá conta diante de tudo isso é que o novo normal pode estar logo ali na esquina. Não sabemos quando a vida, a ciência e o mundo vão nos surpreender. Na peste bubônica — a primeira vez na história em que se adotou uma quarentena no combate a uma doença —, ninguém imaginava um mundo possível pós-pandemia. No entanto, aqui estamos. E continuamos nossa evolução em busca de bem-estar, qualidade de vida e melhores relações humanas.

*Mauro Borghi é assistente da Unidade de Endocrinologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo. Tem mestrado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e é doutorando pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Sua linha de pesquisa envolve XLH e raquitismo.

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