Assine VEJA SAÚDE por R$2,00/semana
Imagem Blog

Com a Palavra Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Blog
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde
Continua após publicidade

Observar e esperar: uma nova forma de abordar o câncer de reto

Estratégia nascida no Brasil é alternativa à cirurgia e tem alcançado bons índices de sucesso e reconhecimento mundo afora

Por Rodrigo Oliva Perez, cirurgião do aparelho digestivo*
Atualizado em 12 fev 2021, 14h33 - Publicado em 12 fev 2021, 10h49

A última porção do intestino grosso, logo antes do ânus, é chamada de reto. Tumores ali correspondem a cerca de um terço de todos os cânceres do intestino grosso e sempre foram um desafio para os cirurgiões e oncologistas. Durante muito tempo, a única forma de tratar a doença se dava por uma cirurgia de remoção do reto, que exigia uma colostomia depois — quando o paciente fica dependente, temporária ou definitivamente, de uma bolsa coletora de fezes.

A cirurgia-padrão era quase que invariavelmente a amputação do reto. Além da necessidade de uma colostomia, a operação envolve o risco de complicações, algumas infelizmente fatais. E, mesmo com a cirurgia, a probabilidade de uma volta da doença à região assombrava 40% dos pacientes.

Nos últimos anos, avanços e desenvolvimentos têm impactado significativamente no tratamento da enfermidade, diminuindo (e muito!) a necessidade de colostomias definitivas, sequelas cirúrgicas e o risco de recidiva do câncer. Um dos principais responsáveis por esse cenário foi a aplicação de radioterapia e quimioterapia antes da cirurgia.

Ainda na década de 1990, médicos começaram a observar que tumores de reto tratados dessa forma no momento anterior à operação com frequência ficavam menores, menos profundos e, em alguns casos, até desapareciam por completo!

Nesse contexto, uma cirurgiã brasileira pioneira, a professora Angelita Habr-Gama, da USP e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, se perguntou: por que seria necessário operar pacientes se o tumor desaparecia com aquele tratamento prévio? Desde então, ela decidiu deixar de submeter pacientes ao bisturi se os exames atestavam o sumiço do câncer.

Continua após a publicidade

Logo no começo, desafiar o tratamento convencional à base de cirurgia deixou a comunidade médica e científica de cabelo em pé. Houve quem dissesse que era uma loucura. Mas Angelita estava propondo ali uma abordagem que ficou famosa em inglês, o Watch and Wait — Observar e Esperar. Essa ideia não significa negligenciar o paciente. Pelo contrário: representa acompanhá-lo muito de perto por meio de exames frequentes. A cirurgia só seria realizada caso o tumor reaparecesse, o que acontecia, segundo levantamentos, em cerca de 25% dos casos.

Um novo olhar para a doença

Com o tempo, a estratégia ganhou adeptos e apoiadores. Criou-se um grupo internacional de instituições que passou a coletar informações de pacientes tratados dessa forma. Essa base de dados foi crescendo e culminou na publicação de um estudo decisivo na respeitada revista médica The Lancet Oncology.

Nesse trabalho, a revisão dos dados de cerca de 800 pacientes tratados com a abordagem do Watch and Wait — todos submetidos a radio e quimioterapia para eliminar o tumor — mostrou que, à medida que o tempo passava, diminuía significativamente o risco de a doença voltar a crescer. A redução era tamanha que, depois de três anos sem a presença do tumor, a probabilidade de não ter uma recidiva nos dois anos subsequentes beirava 97%.

Continua após a publicidade

Esses achados sugerem que o período mais crítico para a volta (ou não) da doença após essa estratégia são os três primeiros anos. Assim, a necessidade de exames mais frequentes pode ser menor depois dessa fase.

Hoje, a ideia de “observar e esperar” pacientes com tumores retais que desaparecem depois de tratados com radio e quimioterapia já se consagra como uma alternativa válida em centros especializados e casos selecionados. Nascida no Brasil, a estratégia é um dos assuntos mais quentes no tratamento da doença em todo o mundo.

Graças a ela, muitos pacientes puderam e podem evitar uma cirurgia com consequências significativas. Quanto mais tempo de acompanhamento o paciente tiver, sem sinais de retorno da doença, maior é a chance de a abordagem dar certo.

* Rodrigo Oliva Perez é cirurgião do aparelho digestivo e coordenador do Núcleo de Coloproctologia e Intestinos do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.