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Enxaguantes bucais ajudam a evitar a Covid-19?

Evidências iniciais sugerem que enxaguantes reduziriam a carga do coronavírus na saliva. Mas isso não é sinônimo de impedir transmissão ou contágio

Por Nathalie Ayres
Atualizado em 26 nov 2020, 14h58 - Publicado em 26 nov 2020, 12h31

Um estudo alemão publicado em outubro ganhou os holofotes ao indicar que alguns enxaguantes bucais reduziam a capacidade de transmissão do coronavírus em tubos de ensaio (ou in vitro, como dizem os cientistas). Desde então, outros experimentos sobre o assunto têm pipocado por aí. Isso levou a leitora Eugênia de Lima Ramos a nos mandar um e-mail perguntando na lata: afinal, esses produtos ajudam a evitar a Covid-19 na população em geral?

A resposta mais simples é: não há evidências o suficiente para comprovar que isso seja possível. O próprio Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) se posicionou, ressaltando o perigo de tais promessas. “São bochechos comuns [..] e a disseminação de tal tipo de informação pode levar a uma falsa sensação de segurança”, afirmou Karem Ortega, membro da Câmara Técnica de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais do CROSP, em comunicado.

A odontologista Magda Feres, coordenadora do programa de pós-graduação da Universidade de Guarulhos, em São Paulo, conta como essa história começou: “Já era sabido que o bochecho com clorexidina e outras substâncias antes de um procedimento odontológico pode reduzir de 80 a 90% das bactérias espalhadas no consultório. Então começou-se a estudar essa ação com os vírus também”.

O que sabemos sobre enxaguantes bucais e o coronavírus

De fato, estudos conduzidos nas bancadas de laboratórios (sem animais ou seres humanos como voluntários) têm apontado um possível efeito desses produtos na redução temporária da carga de vírus presente na saliva. Mas esse tipo de trabalho não justifica uma recomendação geral do uso para evitar o Sars-CoV-2.

Veja: em pesquisas com seres vivos (in vivo), surgem outros fatores que influenciam nos resultados. No caso dos enxaguantes, o primeiro é a interação de diferentes micro-organismos, que podem afetar a efetividade do bochecho. “É como observar o comportamento de uma pessoa sozinha no deserto [enxaguante aplicado in vitro] e outra na cidade [in vivo]”, compara Magda.

Além disso, a duração do bochecho, o tempo que a substância fica na boca, o ato de gargarejar ou não e outras atitudes interferem na conta — e precisam ser contempladas nos estudos com gente como a gente.

Por enquanto, o maior estudo com seres humanos disponível para consulta sobre o tema têm 16 voluntários, o que é muito pouco. Ele comparou três diferentes enxaguantes com um bochecho com água. De acordo com o artigo, os produtos testados exibiram eficácia maior do que água na redução da carga viral na saliva.

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Mas os métodos de avaliação da quantidade de coronavírus foram indiretos e o estudo ainda não foi revisado por outros experts, o que é importante para verificar eventuais falhas. Fora isso, o artigo diz que, no contexto da Covid-19, os enxaguantes podem ser úteis antes de procedimentos no dentista. Não há menção ao uso pela população em geral como forma de minimizar o contágio pelo Sars-CoV-2.

“Temos estudos maiores registrados, mas ainda em andamento e sem resultados divulgados”, ressalta Débora Heller, cirurgiã-dentista e pesquisadora e pós-doutora em Biologia Oral pela Universidade de Boston, nos Estados Unidos. “É importante monitorar o paciente ao longo do tempo, coletando amostras da saliva antes de usar o enxaguatório e minutos e horas depois”, reforça Débora.

Limitações dos enxaguantes

É importante lembrar que os vírus invadem as células do organismo para se replicarem, inclusive as das glândulas salivares. E nenhum enxaguante consegue entrar nas células, como explica Debora. Em outras palavras, mesmo que um produto fosse capaz de eliminar o Sars-CoV-2 que “está solto na boca”, tempos depois ele reapareceria, saindo das glândulas salivares.

Outro ponto que não deve ser esquecido é que os enxaguantes só agem na cavidade bucal e, no máximo, na faringe (quando há um gargarejo). Acontece que vários vírus acessam o corpo pelo nariz ou mesmo pelos olhos. O Sars-CoV-2 é um deles.

“Por isso, considera-se no máximo moderada a eficácia dessas substâncias no combate à transmissão de um vírus”, considera o otorrinolaringologista Cicero Matsuyama, coordenador-geral da Residência Médica em Otorrinolaringologia do Hospital Cema, em São Paulo.

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O ponto fundamental é: nenhum bochecho substitui qualquer outra medida de prevenção do coronavírus.

Cuidado ao escolher seu enxaguante

Existem diversas substâncias que podem compor esses itens: clorexidina, CPC (cloreto de cetilpiridínio), peróxido de hidrogênio (mais conhecido como água oxigenada) etc. E, mesmo para usá-las como forma de eliminar bactérias da boca, é preciso de orientação.

A clorexidina, por exemplo, é considerada um medicamento e possui efeitos colaterais. Ela deve ser prescrita por um odontologista. “Para esses produtos, é preciso uma indicação. Cabe ao dentista entender o componente e orientar o tratamento”, enumera Débora.

Um novo enxaguante será lançado ainda em 2020, prometendo reduzir a carga viral e até diminuir o grau da infecção do coronavírus. Isso com a condição de que sejam feitos diariamente cinco bochechos de mais ou menos um minuto.

O Detox Pro traz uma substância ainda não adicionada em outros enxaguantes. Os estudos iniciais foram enviados para publicação em revistas internacionais há pouco tempo. Foram seis etapas que envolveram um total de 107 voluntários — outras pesquisas maiores estão em fase de recrutamento. Não houve acesso à metodologia completa das pesquisas. Portanto, os recados apontados anteriormente continuam valendo.

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