Vacina antidengue está a um passo de virar realidade no mercado de saúde
Entenda como a vacina antidengue ajudará a acabar com a doença que ameaça o verão brasileiro
Mesmo com a vacina, ainda será necessário tomar cuidado com o mosquito
Foto: Getty Images
A temperatura sobe, as chuvas começam e soa o alarme: cuidado, lá vem a dengue. A história se repete a cada fim e início de ano e, mesmo com as medidas sanitárias tomadas pelos governos e pela população, o mosquito Aedes Aegypti consegue se reproduzir e propagar vírus.
Daqui a poucos anos, porém, esse panorama deve mudar. Já que não podemos exterminar o inseto, por que não ensinar o sistema imune humano a se defender do vírus? Esse é o objetivo de uma vacina contra os quatro tipos do micro-organismo, que já está na etapa final de testes.
O produto, do laboratório francês Sanofi-Pasteur, é o candidato mais avançado entre os imunizantes do gênero e está passando por estudos de eficácia, cujos primeiros resultados devem sair ainda em 2012.
“A vacina já foi aplicada em mais de 15 mil pessoas ao redor do mundo e, ao final do programa, teremos 45 mil”, informa Pedro Garbes, diretor regional de pesquisa e desenvolvimento da empresa farmacêutica para a América Latina. Os testes já começaram no Brasil, com 4 mil voluntários.
A nova leva de investigações, conduzidas em 15 países – incluindo o nosso, a Austrália, os Estados Unidos e algumas nações do sudeste asiático e da América Latina -, quer saber agora até que ponto o imunizante protege contra o vírus. “Por ora, os dados sugerem que ele funciona, mas só estudos desenhados especialmente para isso irão determinar e mensurar sua eficácia”, pondera Garbes.
Obter uma vacina antidengue é uma tarefa difícil por causa de obstáculos impostos pela natureza. Para começar, não há modelos animais 100% convincentes para avaliar a fórmula. “Isso porque mesmo macacos não desenvolvem o quadro mais grave da infecção”, diz Garbes.
Além disso, de nada adianta aprontar um imunizante que bloqueie apenas uma das espécies, por assim dizer, do vírus. Se a gente pega dengue 1, por exemplo, só cria anticorpos contra esse vírus e eles não funcionam para barrar os outros tipos.
“O problema é que, ao sofrer uma segunda infecção, por outro vírus, o sistema imune pode potencializar a agressão, favorecendo a forma hemorrágica“, avisa o especialista Stefan Ujvari. “Desse modo, um imunizante que combatesse somente os tipos 1 e 2 ameaçaria ainda mais quem pegasse os tipos 3 e 4”, argumenta o infectologista pediátrico Luis Carlos Rey, pesquisador da Universidade Federal do Ceará.
A perspectiva de um imunizante contra esse mal tão íntimo do brasileiro também não significa que, quando a vacina chegar aos hospitais, todos poderão deixar o mosquito em paz. “Os cuidados com o vetor (o mosquito) continuam, sobretudo no início do esquema vacinal”, analisa Rey.
E, claro, enquanto não dispomos desse recurso, convém eliminar os criadouros do inseto – aqueles locais e utensílios que podem abrigar água parada – e correr para o pronto-socorro diante da suspeita da doença.