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Febre infantil não é doença

Os pais andam exagerando na dose de antitérmicos, alertam os pediatras. Afinal, em quais casos é necessário lançar mão das gotinhas?

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 3 nov 2020, 18h46 - Publicado em 12 set 2013, 22h00

Imagine chamar a polícia toda vez que o alarme do carro dispara antes mesmo de verificar se alguém tentou roubá-lo ou se foi apenas uma pedra que caiu na carroceria e disparou o sinal. Seria um caos, não? Mas é exatamente isso que os adultos fazem quando os pequenos têm febre – e nem se dão conta. Basta o termômetro indicar mais de 37 °C que começa a correria para encontrar um remédio antes mesmo de averiguar o estado de saúde da criança. A questão é: o uso de medicamento, nessas horas, pode ter consequências negativas.

Tanto é que a mais importante revista científica de pediatria do mundo, a americana Pediatrics, lançou um alerta recente sobre o uso indiscriminado de antitérmicos. No artigo, assinado por especialistas da Academia Americana de Pediatria, os médicos recomendam que não se recorra a esse tipo de remédio com o objetivo exclusivo de reduzir a temperatura corporal de meninos e meninas. “Só que, infelizmente, muitos pais têm um medo exagerado e irracional da febre”, lamenta o pediatra Jayme Murahovschi, da Academia Brasileira de Pediatria. É aí que mora o perigo.
Isso porque a automedicação é sempre arriscada. “Os antitérmicos não atuam sobre a doença que desencadeou a subida da temperatura, só diminuem a febre“, lembra a infectologista e pediatra Cristina Rodrigues da Cruz, professora da Universidade Federal do Paraná. “A preocupação, quando há febre, deve ser com o diagnóstico do que a causou, feito por um pediatra.” Além disso, o calor corporal – desde que não passe de um limite tolerável – até costuma dar uma mão para exterminar o que por ventura está por trás de toda a encrenca.
“A febre de até 38,6 °C otimiza o sistema imunológico”, confirma a pediatra Joelma Gonçalves Martin, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, no interior do estado. “Ou seja, ficar um pouco mais quente do que o normal ajuda a criança a se defender, porque a produção de anticorpos protetores aumenta, recrutam-se algumas células de defesa de maneira mais rápida e inibe-se a multiplicação de diversos micro-organismos”, explica.
Se a febre, a princípio, não faz mal, quando será que os antitérmicos são mesmo necessários? “No geral, quando aumentam o conforto da criança no alívio de sintomas como tremores, mal-estar e aceleração dos batimentos cardíacos”, diz o infectologista Milton Lapchik, coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo. Isso significa que se seu filho está quente, mas continua correndo pela casa, não é preciso medicá-lo. As exceções são garotos com problemas cardíacos ou pulmonares, além daqueles que têm suscetibilidade a crises convulsivas desencadeadas por febre.
Em todos os casos, entretanto, quem deve decidir se é hora de apelar para as gotinhas é o médico – e não os próprios pais. “Nos menores de 3 anos, cujo sistema imune é um pouco mais imaturo, a preocupação precisa ser maior”, ressalta Joelma. “Assim, bebês com temperatura alta, independentemente do estado geral, crianças com febre baixa, mas com outros sintomas, e as que permanecem febris por dias seguidos necessitam de atendimento médico.” Nos recém-nascidos, qualquer febre deve ser comunicada imediatamente ao pediatra.
Mas nenhum pai ou mãe deveria se desesperar nessas horas. Talvez esse seja o recado mais importante do artigo americano. Em mais de 60% dos casos, a elevação da temperatura é apenas uma das respostas do organismo à presença de algum micro-organismo estranho – e logo, logo esse calorão todo passa. Funciona assim: quando um vírus ou bactéria entra no corpo e é reconhecido como invasor, leva à produção de substâncias conhecidas como mediadores inflamatórios. “Eles provocam vasodilatação local, esquentando a região”, explica a fisiologista Silvia Nishida, do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Unesp, em Botucatu. “E atuam no termostato cerebral, o hipotálamo, elevando o ponto de ajuste da temperatura do corpo.”
Então, se antes o termômetro do organismo se esforçava para não passar de 36,5 °C, agora ele acha que o melhor é deixar tudo bem quente. “A partir daí ocorre uma série de estímulos, responsáveis por produzir e reter calor, como a ereção dos pelos e a constrição dos vasos periféricos”, afirma Joelma. A pediatra e neonatologista Fernanda Zicolloto, do Hospital e Maternidade Santa Joana, na capital paulista, deixa um aviso: “A febre é sempre um bom sintoma”. Basta não se apavorar com ela e averiguar o que a provoca antes de partir para qualquer medicação.

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