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Como proteger seu animal das doenças causadas por parasitas

Nunca foi tão importante proteger os bichos de estimação de pulgas, ácaros, carrapatos, mosquitos e vermes — e das doenças que eles espalham

Por Juan Ortiz, Maurício Brum, Sílvia Lisboa e Stéfani Fontanive
Atualizado em 22 set 2019, 10h35 - Publicado em 22 set 2019, 10h35

Apesar de todos os avanços nos cuidados com os pets e na medicina veterinária, uma corja de inimigos — nem sempre vistos a olho nu — continua azucrinando a saúde dos bichos e levando muitos deles aos consultórios Brasil afora. Falamos de uma quadrilha de parasitas que abrange de pulgas e carrapatos a vermes e outros seres microscópicos. Basta um passeio pelo parque para voltar com um desses ingratos hóspedes.

Pulgas por trás de coceiras e lesões na pele… Verminoses que comprometem o aproveitamento de nutrientes e a qualidade de vida. E, se não bastasse, tem até os vilões alados, os mosquitos, que, principalmente no verão, picam e espalham doenças. Uma das mais ameaçadoras é a leishmaniose, que, até pouco tempo atrás, diante da inexistência de um tratamento e da crença de que era transmitida dos cães para os humanos, fez com que milhares de cachorros fossem sacrificados.

Outros males disseminados por parasitas merecem vigilância. Caso da esporotricose, causada por um fungo que vive em cascas de madeira e epidêmica no Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro e nas regiões Norte e Nordeste. As cidades litorâneas e úmidas concentram também mosquitos que, além da leishmaniose, podem transmitir a dirofilariose, outra moléstia de difícil controle.

O quadro geral é realmente sério, mas não há motivo para pânico. A boa notícia é que dá para prevenir e até tratar as encrencas alastradas pelos parasitas. E é isso que você vai aprender a seguir.

Esporotricose, a doença causada por um fungo da pesada

Atenção, donos de felinos que vivem em áreas tropicais, como o Rio de Janeiro: os gatos são as principais vítimas de um fungo fatal. O Sporothrix brasiliensis, principal causador da esporotricose no país e encontrado em abundância em troncos de árvores e no solo, costuma atacar especialmente os gatos que gostam de dar passeios ao ar livre. E, ao serem infectados durante escapadas de casa, eles mesmos se tornam vetores dessa zoonose para seus tutores.

O principal sintoma são feridas na pele do bicho, principalmente no focinho, que podem apresentar uma secreção purulenta, além de queda de pelos, falta de apetite e vômitos.

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“É uma micose profunda, que atinge o tecido abaixo da pele e pode migrar para vasos linfáticos e outros órgãos”, detalha a veterinária Juliana Trigo, analista técnica da Ourofino, fabricante de medicamentos veterinários.

A proliferação da esporotricose por aqui tornou o Brasil líder em números de casos no mundo. A constatação é do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, ligado à Fiocruz, que diagnosticou cerca de 5 mil felinos com a doença nos últimos 20 anos.

“É o maior registro de casos clínicos em animais publicado em periódicos científicos até o momento”, conta o veterinário Sandro Pereira, chefe do laboratório de pesquisa clínica em dermatozoonoses em animais domésticos da instituição.

A enfermidade não possui notificação obrigatória em todos os estados do Brasil — por isso não se sabe a prevalência nacional. No Rio, porém, os estudos apontam que a micose se tornou um problema de saúde pública, devido ao aumento dos casos em humanos — de acordo com uma pesquisa recente, 95% dos episódios da zoonose ocorreram nos 11 municípios da região metropolitana do estado. “No Nordeste também tem crescido o número de diagnósticos”, alerta Pereira.

A esporotricose afeta diversos animais, incluindo cães, cavalos, porcos e até espécies silvestres. Não se sabe por que os gatos são os mais atingidos — estima-se uma proporção de um cão para 25 felinos. Provavelmente, explica Pereira, seu sistema imunológico seja ineficiente diante do comportamento virulento do fungo.

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Para protegê-los, os veterinários recomendam a castração precoce, uma vez que a medida reduz o ímpeto do animal de sair dando voltas por aí.

O tratamento

A esporotricose tem cura quando diagnosticada precocemente. O tratamento com antifúngicos, como o itraconazol (acompanhado ou não por iodeto de potássio) é longo: pode se estender por quatro a seis meses. No período, o tutor deve tomar cuidado para não ser contaminado ao sofrer arranhões e realizar a higienização da cama e dos utensílios usados pelo pet.

Nos casos de evolução da moléstia em que não há mais chances de cura, recomenda-se a eutanásia e a cremação dos corpos.

Pulgas, ácaros e carrapatos, os arqui-inimigos da pele

Sua presença não costuma ser difícil de notar. Por se tratar de parasitas externos e visíveis, pulgas e carrapatos tendem a ser percebidos mais cedo pelos tutores. E mesmo os ácaros, embora microscópicos, produzem reações claras na pele. O fato de serem mais identificáveis, no entanto, não os torna menos problemáticos.

Além de causarem uma série de chateações por si mesmos, pulgas, ácaros e carrapatos também podem ser vetores de outros parasitas. As pulgas tomam conta do corpo do animal tanto a partir do ambiente quanto pelo contato com outros bichos infestados.

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Praga comum no dia a dia e nas clínicas veterinárias, provocam coceira, irritação e manifestações alérgicas na pele. Em caso de infestações severas, chegam até a provocar anemia, pois o inseto se alimenta do sangue dos hospedeiros. A pulga ainda pode carregar um verme perigoso, o Dipylidium caninum, causador da dipilidiose, uma doença intestinal.

Os carrapatos também se esmeram em encontrar abrigo e comida na parte externa do organismo. Estão distribuídos em mais de 870 espécies e são temidos pelos prejuízos que causam à pecuária. O tipo mais comum em animais de companhia brasileiros é o carrapato marrom, o Rhipicephalus sanguineus. Embora seja mais frequente em cães, ele também persegue gatos.

A exemplo das pulgas, carrapatos podem levar à anemia, não só por se alimentar de sangue mas por transmitirem um protozoário que ataca glóbulos vermelhos e brancos, causando uma doença conhecida como babesiose.

“É importante lembrar que só 5% das larvas estão no corpo do hospedeiro. O restante está no ambiente ao redor”, observa o veterinário Gervásio Bechara, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. “Muita gente, ao tratar seu animal, acaba fazendo uma prevenção errada: esquece os 95% que estão na casinha, na grama, no cimentado”, alerta. Por isso, precisamos estar atentos aos ninhos do bichinho, que pode se abrigar nas paredes e em locais mais altos, próximos ao teto.

Ácaros, assim como os carrapatos, são aracnídeos, só que invisíveis a olho nu. Sua presença está relacionada aos diferentes tipos de sarna, como a demodécica, a otodécica e a sarcóptica, as mais comuns nos pets.

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A principal vilã é a sarna sarcóptica, que, além de altamente contagiosa, pode ser transmitida ao tutor. Diante dela, a pele fica vermelha e com coceira intensa, levando à abertura de feridas e à queda de pelos.

A sarna demodécica não costuma causar coceira nem é transmissível a humanos. Já a otodécica causa forte coceira nas orelhas e vem acompanhada por uma secreção escura — uma forma de identificá-la em seu cão ou gato é se eles estão chacoalhando a cabeça com frequência, uma tentativa de aliviar o incômodo. A despeito do tipo, convém visitar o veterinário.

Proteção tripla

Os últimos produtos lançados pela indústria de saúde animal prometem proteção conjunta contra ácaros, carrapatos e pulgas. “São sprays e coleiras à base de acaricidas químicos”, explica o veterinário Gervásio Bechara.

Elas liberam as substâncias no pelo do animal conforme eles se movimentam. Mas, segundo o professor, mesmo esses métodos não são infalíveis. “Parasitas, especialmente os carrapatos, desenvolvem resistência aos produtos”, diz.

Assim, também vale a pena prezar a higiene nos locais onde o pet passa a maior parte do tempo, evitando a proliferação desses hóspedes indesejados.

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Um verme para (não) chamar de seu

Geralmente, a cena é a mesma: o cão, ou o gato, sai para passear e, de repente, encontra fezes velhas alheias. Como quem não quer nada, se aproxima, cheira, sente o gosto e segue explorando o ambiente. Ou talvez nem chegue perto do cocô, mas a grama onde pisa já foi contaminada pelo excremento de outros animais. Nos dias seguintes, lá vêm diarreia, dores e outros sintomas digestivos. Assim funciona o modus operandi das verminoses, um grupo de doenças causadas por parasitas de diversas origens, tamanhos e formatos.

O principal meliante da lista é o Dipylidium, que começa a jornada parasitária usando a pulga como hospedeira intermediária. É por meio da ingestão acidental da pulga que cães e gatos liberam a entrada desse platelminto no seu trato gastrointestinal. Dentro do corpo, o verme achatado pode chegar a 50 cm de comprimento. Os sintomas são diarreia e coceira na região anal, que fazem o animal arrastar o ânus pelo chão.

Para o tratamento da parasitose, o indicado é administrar vermífugos e antipulgas em conjunto. “Dessa forma, evitamos que o ciclo do parasita se complete”, explica a veterinária Cristine Fischer, professora da Universidade Luterana do Brasil, em Canoas, no Rio Grande do Sul.

Os cuidadores também devem dedetizar os locais de descanso dos pets para eliminar as pulgas em estágios menos avançados. Para toda fase da vida dos bichos de estimação, parece que a natureza tem uma verminose feita sob medida.

Os nematódeos do gênero Toxocara, por exemplo, são frequentes em filhotes caninos e felinos de até 1 ano e encabeçam a segunda posição do ranking. Não raro, os bichos acabam infectados por meio da placenta e do leite materno. Cada verme cilíndrico desses pode chegar a 18 cm de comprimento e permanecer no intestino delgado por vários meses.

A toxocaríase provoca atrasos de crescimento, diarreia, barriga inchada e até morte por obstrução ou perfuração intestinal.

O Ancylostoma é outro nematódeo bem recorrente, mas em animais adultos. Esse verme se alimenta de sangue no intestino dos cães e, por isso, provoca diarreia e anemia. As fezes expostas de bichos acometidos podem desenvolver larvas em menos de 48 horas, se houver temperatura morna e alta umidade do ar.

A doença pode ser transmitida apenas pelo contato das patas do animal com o local contaminado. A ancilostomose — ou amarelão — também afeta os humanos.

O verme mais comum em bichos idosos é o Trichuris, que se instala no intestino grosso. Uma forma de identificar seu rastro característico são os pelos feios e quebradiços das vítimas. Os ovos desses nematódeos podem sobreviver em meio à sujeira externa por mais de quatro anos. Manter quintais limpos ajuda a evitar sua proliferação.

Como se defender?

A prevenção é simples, mas pede disciplina: recolha a sujeira deixada pelo seu bicho sempre. Seja no quintal de casa, seja na rua, o cocô exposto é a principal forma de espalhar vermes. Fazer sua parte evita, também, que outros animais sejam atacados.

Caso haja alguma suspeita, o veterinário deve fazer uma avaliação e pedir um exame de fezes.

Mosquitos e perigos no ar

É quando o tempo esquenta que esses insetos voadores fazem a festa. Assim como nos perturbam, trazem problemas para os animais. O mosquito Aedes aegypti, que espalha a dengue entre os humanos, transmite aos cães uma doença grave que afeta o coração, a dirofilariose.

“Se não for tratada, há risco de morte por insuficiência cardiorrespiratória”, alerta o veterinário Ricardo Cabral, da Virbac, farmacêutica especializada em saúde animal.

Os mosquitos anófele e cúlex também podem carregar as larvas da lombriga Dirofilaria immitis, conhecida como “verme do coração”.

Após a picada, as larvas se deslocam pelo sangue até o músculo cardíaco, e o cão começa a ficar ofegante — daí ele perde o pique e fica apático. À medida que a moléstia avança, despontam tosse, perda de peso e convulsões. Comum em regiões litorâneas e úmidas do país, a dirofilariose precisa ser tratada na fase inicial para evitar o colapso do coração.

Os animais que vivem em regiões mais próximas do mar e em algumas áreas rurais também estão mais suscetíveis a outro inimigo alado, o mosquito-palha. Esse inseto pequeno e amarelado — a bem da verdade, não é um mosquito, mas um flebotomíneo — é o vetor do protozoário causador da leishmaniose. De acordo com a Fiocruz, o Brasil é o país que mais concentra espécies de mosquitos-palha no mundo.

Endêmica no país, a doença vem migrando para as cidades com o avanço da urbanização e do desmatamento. “Após o animal ser picado, o protozoário se aloja no interior das células, especialmente nas responsáveis pelo sistema imunológico”, explica Cabral. Felizmente, há uma vacina, aplicada a cada ano e destinada apenas a animais não infectados: havendo contágio, ela impede que a doença se desenvolva.

Um dos grandes desafios hoje é detectar o problema cedo. Os primeiros sintomas são lesões na pele que se confundem com dermatites. Depois vêm vômitos, diarreias e sangramento nas fezes, também comuns a outras infecções. Na dúvida, é preciso procurar o veterinário e lançar mão de exames que flagram o dito-cujo. Quanto antes começar o tratamento, melhor.

Há apenas um remédio contra a doença disponível no Brasil. Além de controlar as manifestações do problema, a medicação evita a corrente de transmissão. A barreira, por ora, é o preço: o menor frasco, de 30 mililitros, custa em média 500 reais.

Até 2016, por causa da carência de um tratamento, os animais infectados eram todos sacrificados. O abate, alegava-se, era uma forma de reduzir a disseminação da leishmaniose nos seres humanos — os cães, porém, não passam a doença aos tutores, são apenas hospedeiros do protozoário.

Graças à ciência e à conscientização, as vítimas do mosquito-palha ganharam uma nova chance de viver — e ao lado da família.

A salvo dos mosquitos

  • Use repelentes em coleiras ou sprays vendidos em pet shops.
  • Telas nas janelas da casa evitam a entrada dos intrusos.
  • Fique alerta durante passeios em regiões úmidas e quentes.
  • Mantenha quintal, jardins e arredores limpos o ano todo.
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