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Varizes: por que surgem e como tratar

Quando as varizes não são tratadas direito, podem provocar dor e trazer riscos à saúde. Descubra como evitar que elas virem um peso na sua vida

Por André Biernath
Atualizado em 23 dez 2020, 13h07 - Publicado em 30 dez 2018, 10h10

Faz tempo que a humanidade se queixa das varizes. O primeiro registro que se conhece delas está estampado numa estátua de mármore feita quatro séculos antes de Cristo e encontrada em escavações nas proximidades de Atenas, dentro de um santuário construído em homenagem ao herói Amynos. A imagem, hoje guardada no Museu Nacional de Arqueologia da Grécia, retrata um homem segurando uma perna com veias dilatadas e tortuosas. A peça representa o agradecimento de um paciente após um tratamento bem-sucedido.

Passados mais de dois milênios desde que a obra foi esculpida, as varizes continuam incomodando muita gente — e quem mais se queixa hoje são as mulheres. Estatísticas da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) indicam que 38% dos adultos convivem com ela.

No público feminino, o número é ainda maior: 45% apresentam a condição. Entre as pessoas com 70 anos, 70% têm algum grau do quadro conhecido por insuficiência venosa crônica.

Mas por que as varizes são tão corriqueiras? A culpa é da própria evolução da nossa espécie. Quando o ser humano passou a adotar a postura ereta e a andar apenas com os pés, ficou bem mais difícil levar o sangue das pernas de volta ao coração — imagine o esforço que é vencer a gravidade e fazer o líquido vermelho subir ao peito! “Com o tempo, as veias ficam debilitadas e deixam de cumprir seu papel”, explica o cirurgião vascular Nelson Wolosker, do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista.

Mas engana-se quem pensa que o alargamento desses tubos nos membros inferiores seja apenas um impedimento para vestir short, maiô ou biquíni. Diversos estudos demonstram que o fenômeno está por trás de repercussões mais sérias à saúde.

Uma pesquisa do Hospital Memorial Chang Gung, em Taiwan, por exemplo, acaba de confirmar que as varizes aumentam em cinco vezes o risco de trombose venosa, a formação de um coágulo nos vasos sanguíneos profundos.

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O trabalho, publicado no prestigiado periódico científico The Journal of American Medical Association, analisou os registros de 425 mil cidadãos da ilha asiática. Metade do grupo penava com as varizes, enquanto a outra parcela vivia livre delas. A investigação revela que ter o quadro dobra a probabilidade de um indivíduo sofrer uma grave embolia — quando um trombo sanguíneo se solta da periferia do corpo e vai parar lá nos pulmões, por exemplo.

Por mais que esse elo já estivesse estabelecido pela ciência, ele não havia sido confirmado por um levantamento com números tão expressivos. A boa notícia é que os episódios de tromboembolismo pulmonar provocados pelas varizes não acontecem com tanta frequência.

“Por outro lado, existem outras complicações mais comuns, como a inflamação dessas veias e o aparecimento de úlceras na pele, que são dolorosas e de difícil cicatrização”, diz o cirurgião vascular Gilberto Narchi, do Hospital do Coração, em São Paulo. Ainda bem que dá pra intervir muito antes de a situação ficar desse jeito.

Varizes: por que surgem e como tratar
(Foto: LightFieldStudios/Getty Images)

Quem precisa ficar atento às varizes

O primeiro passo para driblar essa série de enrascadas — e, claro, botar a roupa de banho sem neura — é ficar de olho nas pernas, principalmente a partir dos 30 anos de idade. Geralmente, as varizes se manifestam por meio de manchas verdes ou roxas, que se expandem aos poucos. Outras pistas frequentes são o inchaço e a sensação de peso nos pés ao final do dia.

“A doença começa muito antes dos sintomas, então é importante procurar um profissional o mais cedo possível”, aconselha o angiologista Marcelo Moraes, diretor da SBACV.

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A atenção deve ser redobrada se você tem um parente próximo com o problema — a genética influencia bastante por aqui. Outros fatores bem conhecidos são o envelhecimento, o ganho de peso, o sedentarismo, o uso de terapias hormonais e duas ou mais gestações.

Recentemente, um estudo da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, acrescentou outro componente à lista, a altura. Numa análise genética de 413 mil voluntários, eles descobriram que, quanto mais alta a pessoa, mais costumeiras são as varizes.

“Além de o caminho para bombear o sangue de volta ao coração ser mais longo, parece que há algo no DNA que relaciona o tamanho corporal com o desenvolvimento inadequado das veias”, especula a pesquisadora Alyssa Flores, coautora da investigação.

De acordo com os médicos ouvidos por SAÚDE, as mulheres, mais sujeitas à intempérie, costumam marcar consultas com maior frequência e rapidez. Os homens, na contramão, deixam a coisa se arrastar por anos — por descuido ou por não reparar nos vasos irregulares em meio aos pelos das pernas.

E olha que a detecção do problema não tem nada do outro mundo: o especialista faz o diagnóstico no próprio consultório. Ele ainda pode requisitar alguns exames complementares, como o ultrassom e o eco-doppler colorido, para determinar a gravidade e selecionar o melhor tipo de tratamento.

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Os principais causas das varizes

Genética: Se você tem um familiar de primeiro grau com varizes, seu risco de desenvolvê-las também é alto.

Hormônios: Remédios que mexem com o sistema hormonal chegam a alterar a integridade dos tubos sanguíneos.

Obesidade: Os quilos extras sobrecarregam e pressionam os vasos responsáveis por transportar o sangue pelas pernas.

Gestações: O crescimento do bebê no útero aperta as veias da pelve, o que repercute direto nos membros inferiores.

Sedentarismo: Estimula o ganho de peso e deixa a panturrilha mirrada. Assim, o músculo não consegue realizar seu trabalho.

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Sexo: Mulheres sofrem mais com elas do que os homens. Parece que os hormônios têm um papel por aqui.

Altura: Descoberta como fator de risco nos últimos meses, seu impacto ainda precisa ser mais bem estudado.

Os tratamentos disponíveis

As intervenções disponíveis para acabar com as varizes evoluíram muito e solucionam a chateação na maioria das vezes. A primeira escolha tende a ser a cirurgia convencional, utilizada há mais de 100 anos com segurança e eficácia. Por meio de pequenas incisões na pele, é possível extrair os vasos que estão doentes.

Para quem busca alternativas menos invasivas, as técnicas de ablação por laser ou radiofrequência são uma boa pedida. “Introduzimos um cateter que gera um calor entre 120 e 400 ºC para destruir a veia com problema”, detalha o angiologista Arno Von Ristow, da Rede D’Or e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Outra saída bastante popular é a escleroterapia, que envolve a aplicação de uma substância com aspecto de espuma diretamente nas regiões afetadas. “Por meio de uma reação química, o vaso se inflama e se fecha, até desaparecer completamente”, resume o cirurgião vascular Marcelo Ruettimann Liberato, do Hospital São Rafael, em Salvador. São necessárias de duas a cinco sessões para completar o tratamento, que é feito em ambulatório, sem necessidade de internação ou anestesia.

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Tamanha facilidade fez com que a escleroterapia fosse incluída a partir de 2017 no Sistema Único de Saúde, o SUS. “Essa aprovação foi uma vitória para os milhares de indivíduos com insuficiência venosa crônica que estavam havia anos à espera de uma solução”, comemora Liberato, que coordenou um projeto-piloto com esse método na capital da Bahia.

Só é preciso cuidado para não cair em ciladas: tem muito lugar suspeito oferecendo a escleroterapia por aí. “Não é uma coisa que você aprende num curso de fim de semana e faz indiscriminadamente”, avisa Moraes.

A SBACV, aliás, iniciou uma campanha para alertar sobre os perigos dessa prática irregular. Se injetada de forma errada, a espuma pode causar alergias, infecções e até trombose. Para fugir dessas complicações, sempre procure o médico com a devida formação na área.

Em resumo:

Cirurgia: Geralmente é a primeira indicação, uma vez que pode ser realizada em várias veias de tamanhos e calibres distintos. A retirada não afeta em nada a circulação sanguínea, já que esses tubos doentes não cumpriam mais sua função. Apesar dos cortes pequenos, é necessário respeitar o repouso por alguns dias antes de retomar as atividades normais.

Ablação: Trata-se de uma forma minimamente invasiva de queimar a parede interna dos vasos defeituosos por meio de raio laser ou radiofrequência. Como a operação usa cateteres, só é feita nos ductos maiores, como a safena, que vai da coxa até o meio da batata da perna. É necessário bastante cautela durante o procedimento para não lesar os nervos nas cercanias.

Escleroterapia: A espuma do princípio ativo polidocanol irrita e destrói as células que compõem a veia. Com isso, o vaso danificado entra em colapso e some. Após algumas semanas, ele se transforma num cordão fibroso e acaba reabsorvido pelo corpo. A técnica é barata, simples e funciona nos quadros mais difíceis. O único porém é que 30% dos pacientes ficam com manchas na pele.

E os vasinhos?

Essas linhas arroxeadas parecidas com teias de aranha recebem o nome de telangiectasias. São veias bem menores que estão na derme e na epiderme. Elas não estão relacionadas a desajustes de saúde — o prejuízo é só estético mesmo.

Quem tem muitas formações desse tipo deve ficar atento, pois é comum que as varizes apareçam em conjunto ou na sequência. Para secá-las, não carece de nada muito sofisticado: injeções de glicose administradas por um especialista dão conta do recado.

Quando vira ferida

As inflamações e úlceras na pele são um suplício. E estima-se que 1,5% dos brasileiros tenham essas feridas provocadas pela insuficiência venosa. É primordial seguir direitinho o tratamento com curativos e as recomendações de repouso para acelerar a recuperação.

A importância do diagnóstico precoce

Apesar de as opções cirúrgicas serem bastante confiáveis, nem sempre se recorre a elas logo de cara. Se diagnosticadas numa fase inicial, as varizes são manejadas de maneira conservadora, utilizando estratégias para que elas não progridam nem apresentem sintomas.

Nesse sentido, a meia elástica é uma parceira para todas as horas. “Ela aperta alguns pontos específicos da perna com o objetivo de melhorar o retorno do sangue ao coração”, explica o angiologista Walter Campos Júnior, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

O uso contínuo da peça reduz a dor e o inchaço ao final do dia. Ela está indicada tanto para casos recém-diagnosticados quanto para aquelas pessoas que já fizeram uma intervenção — em cerca de 20% das vezes, a doença retorna em outros vasos dos membros inferiores nos três anos seguintes.

Existem ainda medicamentos da classe dos flebotônicos que dão uma força extra ao sistema circulatório. Os mais famosos deles são de origem fitoterápica, como a castanha-da-índia e a hamamélis. Esses produtos, cuja utilização pede sempre orientação médica, aumentam o tônus dos tubos sanguíneos e têm propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes.

Só não espere que façam milagres… “Eles não evitam o problema em si, mas aliviam queixas como o inchaço e a dor”, aponta Campos Junior.

Não dá pra se esquecer também do papel da atividade física nesse contexto. “Movimentar e fortalecer a panturrilha e os demais músculos é essencial para aprimorar o fluxo sanguíneo”, ressalta o cirurgião vascular Tony Furuie, do Hospital Santa Cruz, na capital paulista. Isso sem contar o efeito do exercício na perda de peso — como vimos, a obesidade é um dos principais promotores da doença.

Ao contrário dos gregos antigos, hoje em dia não há mais razão para esculpir estátuas a fim de mostrar um ideal de corpo ou celebrar a melhora das varizes. Nossas pernas podem (e devem!) ficar sempre livres, leves e soltas. A saúde e a autoestima vão agradecer.

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