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O que afasta os jovens da vacina contra o HPV

Entenda por que a vacinação contra esse vírus que causa diversos tumores não caiu nas graças populares - e o que pode ser feito para melhorar a adesão

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 3 mar 2023, 11h04 - Publicado em 14 dez 2017, 12h05

Eis um baita desafio para 2018: aumentar a cobertura da vacinação do HPV. É que, depois de uma ótima estreia em 2014, quando a meta do Ministério da Saúde foi até ultrapassada, a cobertura nos anos seguintes não atingiu a expectativa de ter 80% das adolescentes protegidas contra o vírus.

Para ter ideia da situação, em agosto o governo liberou temporariamente a vacina para adultos de até 26 anos porque os lotes estavam prestes a vencer nos postos de saúde. “O comparecimento diminuiu desde 2014 e hoje estamos com a cobertura de 76% nas meninas na primeira dose e 48% na segunda”, aponta Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. É bem baixo.

Já a estreia dos meninos entre 12 e 13 anos no programa foi tímida. Seis meses depois da inclusão deles no esquema, em junho deste ano, a cobertura está na faixa de 23%, segundo dados do Ministério divulgados em setembro.

A vacina está longe

“Algumas situações, como o fato da vacina ter saído das escolas e só estar disponível nos postos de saúde, onde os horários são mais restritos, interferiram na cobertura”, destaca Edison Fedrizzi, ginecologista da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis. Nos países onde a imunização contra o HPV deu muito certo, como a Austrália, a aplicação é feita em praticamente todas as escolas.

Além da dificuldade do acesso, há também a distância entre os temas adolescência e imunização. “Essa faixa etária frequenta pouco o serviço de saúde. É diferente da criança, que o pai pega no colo e leva”, aponta Carla. O que nos leva ao segundo ponto.

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Corpo fechado

Parte da baixa procura se justifica por aquela típica sensação de onipotência juvenil. “Por achar que nada de errado irá acontecer, o adolescente só se preocupa quando vê um caso próximo a ele ou recebe o diagnóstico de uma verruga, por exemplo”, expõe Magda Pearson, doutora em psicologia clínica pela Universidade de Buenos Aires, na Argentina.

A saída para isso é o diálogo franco. “Eles precisam conhecer os riscos sérios, como o câncer. Muitas vezes os pais adiam essa conversa e a tomada de decisão sobre o assunto”, comenta a especialista. “A procrastinação em relação à saúde é comum ao brasileiro”, arremata.

Boataria que não ajuda

Os especialistas ouvidos pela reportagem relembram que, no final de 2014, 11 meninas de Bertioga, no litoral de São Paulo, alegaram passar muito mal após serem vacinadas, com sintomas como dor de cabeça, tremedeira e até perda de movimentos das pernas. Uma coisa foi logo associada a outra e o caso correu pela imprensa.

Só que tudo foi um grande desentendido. As garotas haviam exagerado – e certos sintomas apresentados, como tontura, podem decorrer de qualquer vacina, passando rapidamente. “Tomar uma injeção pode gerar ansiedade e estresse em qualquer adolescente. Ao ver outro jovem passando mal, ele somatizaria isso e apresentaria os mesmos sintomas”, diz Carla Domingues.

Depois de investigarem a fundo a situação no litoral paulista, foi exatamente essa a conclusão que o governo chegou. Todas as 11 meninas estão bem – e nenhuma perdeu os movimentos ou qualquer coisa parecida.

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O elo entre males graves e a vacina do HPV foi desmentido por amplos levantamentos, mas o medo despertado pelo caso de Bertioga (e por notícias falsas descaradas) ainda é considerado um fator que atrapalha a adesão. “Precisamos continuar divulgando o fato de que a vacina é extremamente segura. Já são 250 milhões de doses aplicadas no mundo sem nenhum efeito adverso grave ligado a ela”, destaca Carla.

Para combater fenômenos como esse, só mesmo com muita informação aos jovens e seus pais. Afinal de contas, o grupo de garotas entre 9 e 10 anos tem um dos piores níveis de cobertura. “Para elas, a adesão está em 12%. É a faixa etária que mais precisa melhorar”, comenta Carla.

Vantagens para todos os lados

Se os motivos para não vacinar são quase inexistentes, os para tomar as picadas estão sobrando. Elas, por exemplo, protegem contra ao menos 70% dos casos de câncer de colo de útero nas mulheres e limam 80% dos tumores relacionados ao vírus nos homens – a saber, eles ocorrem na região genital, na boca e na garganta.

A imunização é ainda mais eficaz para prevenir os tipos de HPV relacionados às verrugas. “A Austrália aderiu à vacina em 2007 e, uma década depois, os casos desse problema na faixa etária imunizada quase desapareceram”, destaca Fedrizzi.

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De fato, houve uma redução de mais de 90% na incidência desse chabu no país da Oceania, enquanto as lesões pré-cancerosas caíram pela metade. Se as autoridades ainda têm trabalho a fazer para melhorar a cobertura de imunização, você também tem seu papel. Lembre-se de que a vacina ajuda tanto você quanto as pessoas ao seu redor.

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