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Hemodiálise não é a única opção contra doença renal crônica

Além dessa técnica, o SUS disponibiliza a chamada diálise peritoneal, que ganhou destaque em um congresso de nefrologia. Comparamos as duas

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 14 mar 2019, 10h41 - Publicado em 28 nov 2016, 19h31

Não pense que a diálise peritoneal (DP) é recente. Embora tenha evoluído ao longo dos anos, ela foi testada pela primeira vez na década de 1930 — antes da hemodiálise. E o objetivo é o mesmo de sua prima: filtrar o sangue de pessoas com doença renal crônica, um mal caracterizado pelo comprometimento dos rins. Entre as diferenças, a hemodiálise requer três visitas a uma clínica por semana, enquanto a DP costuma ser feita ao menos uma vez por dia, mas em casa. No médio prazo, ambas apresentam taxas de sobrevida parecidas e são custeadas pelo sistema público.

“Ainda assim, na maioria dos países cerca de 90% dos pacientes recorrem à hemodiálise”, contextualiza o nefrologista Miguel Carlos Riella, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). No Brasil, somente 7% dos pacientes utiliza a DP, embora o Ministério da Saúde preconize uma taxa de 20%. Essa recomendação ganha força na medida em que o Congresso Americano de Nefrologia, recentemente sediado em Chicago, reservou bastante espaço para debates envolvendo o uso da diálise peritoneal. Ancorados nisso e na conversa com especialistas, explicamos as vantagens e limitações de cada estratégia.

Hemodiálise

Por meio de um cateter em geral instalado no braço, o sangue deixa o corpo e é filtrado em uma máquina. Em mais ou menos três horas, ele fica limpinho e o sujeito pode voltar para sua casa — mas vai precisar retornar à clínica outras duas vezes na semana. “A obrigatoriedade de ir a esses locais traz, por si só, boas e más notícias”, pondera a médica Zita Brito, diretora técnica do Centro de Rim e Diabetes do Hospital 9 de Julho, em São Paulo.

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Começando pelo lado positivo, essas idas e vindas promovem um contato frequente com profissionais de saúde, o que facilita o manejo de reações adversas e a detecção de eventuais problemas. Na contramão, tantos deslocamentos bagunçam a rotina mesmo de gente que vive em grandes centros urbanos. Agora imagine uma pessoa que tem de viajar para uma cidade vizinha onde haja um aparelho de hemodiálise. “As ambulâncias passam de madrugada nas casas, percorrem quilômetros na estrada para deixar os pacientes e, no fim do dia, trazem-nos de volta”, diz Riella. “Nesses casos, o desgaste é enorme”, completa.
Além disso, a hemodiálise exige a aplicação de um anticoagulante — caso contrário, há risco de trombos se formarem e provocarem estragos sérios, como um AVC. Acontece que esse tipo de medicamento é contraindicado para indivíduos com suscetibilidade a hemorragias internas ou sangramentos. Aí a diálise peritoneal aparece como uma alternativa.

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Diálise peritoneal

Quem recorre a essa técnica primeiro deve instalar um acesso no abdômen — é através dele que uma máquina (a cicladora) infunde um líquido batizado de dialisato. Essa solução, então, entra em contato com o peritônio, uma membrana que recobre os órgãos e serve como uma espécie de filtro, passando para o dialisato as substâncias tóxicas que se acumulam no sangue de quem tem problemas nos rins. De tempos em tempos, a própria cicladora remove o líquido sujo e aplica uma nova dose. O processo costuma ser feito no período noturno, inclusive durante o sono, e dura no máximo dez horas, embora precise ser repetido diariamente.

O conforto de não precisar visitar uma clínica três vezes por semana melhora a qualidade de vida de muita gente — inclusive, as bolsas com aquele líquido são entregues na casa do paciente de graça. “Mesmo assim, essa pessoa necessita ir ao médico pelo menos uma vez por mês, inclusive para realizar exames”, avisa Zita.

Além disso, essa maior liberdade exige responsabilidade para não abandonar o tratamento. É absolutamente fundamental seguir as recomendações médicas quanto à frequência de sessões e de outras particularidades desse método para que ele seja de fato efetivo. “Temos de fazer um treinamento que engloba inclusive a higienização”, destaca Riella. Antes de aplicar o dialisato e ligar a máquina, por exemplo, é mandatório lavar as mãos e até pôr uma máscara para evitar a peritonite, uma infecção no peritônio. “Hoje a incidência desse problema é baixa, da ordem de um evento para cada dois anos e meio de uso mais ou menos”, calcula Riella. Entretanto, sem os devidos cuidados esse número pode subir.

“No fim das contas, a decisão entre uma técnica e outra depende do paciente e de suas condições. O problema é que, atualmente, a opção da diálise peritoneal não é debatida como deveria”, lamenta Riella.

Acompanhamento à distância

Um dos destaques do Congresso Americano de Nefrologia é um software apresentado pela empresa Baxter que facilita o monitoramento de pessoas que se valem da DP. Em resumo, ele coleta informações da própria cicladora e outros dados básicos digitados pelo paciente para, então, disponibilizá-los ao médico. Com isso, fica mais fácil para o doutor notar deslizes nas sessões ou sinais suspeitos de que há algo errado. Esse programa deve chegar em 2017 no Brasil.

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Por que nunca ouvi falar da diálise peritoneal antes?

Não pense que esse desconhecimento geral tem a ver com uma eficácia muito maior da hemodiálise. Até se discute que ela poderia ser usada por mais tempo em comparação com a DP, porém o fato é que não há grandes empecilhos em substituir um método por outro no caso de uma eventual necessidade.

Segundo os especialistas entrevistados, o pouco uso da DP no Brasil — e em vários outros países, para falar bem a verdade — se deve a fatores que fogem das características intrínsecas dela e da alternativa. O primeiro envolve a educação do profissional de saúde. A maioria dos médicos brasileiros está acostumada a lidar com a hemodiálise, mas não tem tanta familiaridade com a DP. Nesse contexto, boa parte dos doutores teria até receio de lançar mão de uma tática com a qual não se sente tão preparada para fazer eventuais ajustes ou mesmo contornar complicações.

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Fora isso, há um entrave econômico. A maioria das clínicas está baseada na hemodiálise — logo, a popularização da DP culminaria em gastos para adaptá-las e, possivelmente, em um menor ganho, já que a quantidade de atendimentos cairia. Existem ainda custos atrelados à instalação do acesso peritoneal e, se surgir uma infecção, aos antibióticos. “Aqui no Brasil nunca houve uma política de incentivo. No México, em que existia um forte estímulo para a diálise peritoneal, aproximadamente 60% dos pacientes a utilizavam”, exemplifica Zita.

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Claro, também não dá para ignorar a necessidade de um maior autocuidado. Se o doente não tem condições ou disposição para fazer a higienização e seguir o protocolo de tratamento da DP, a hemodiálise é mais segura mesmo. Só tenha em mente que você é parte ativa dessa história e pode participar da decisão.

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