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Cientistas editam DNA para curar doença cardíaca em embriões

Uma técnica, chamada de CRISPR-Cas9, foi aplicada em embriões humanos – e "consertou" o DNA com sucesso em vários casos

Por Bruno Vaiano (da Superinteressante)
Atualizado em 22 ago 2017, 09h45 - Publicado em 5 ago 2017, 15h38

Pela primeira vez em solo norte-americano, cientistas usaram a técnica de edição genética CRISPR-Cas9 (já vamos explicá-la) para modificar embriões humanos. O objetivo era corrigir uma mutação em um gene, o MYBPC3, responsável por uma doença chamada cardiomiopatia hipertrófica.

Os embriões serão descartados, porque a legislação da maior parte dos países proíbe a gestação de bebês geneticamente modificados. Polêmicas à parte, o sucesso no laboratório é um marco para a medicina. Vale destacar que a cardiomiopatia hipertrófica afeta uma em cada 500 pessoas, e é a principal causa de morte repentina entre atletas jovens.

Para gerar os embriões usados no experimento, a equipe de Hong Ma, da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon, nos EUA, uniu óvulos saudáveis aos espermatozoides de um homem com a doença. Em uma situação normal, com pai doente e mãe saudável, 50% das crianças dessa relação nasceriam com o problema no coração.

Aplicando aquela técnica de edição de DNA durante a fertilização, os cientistas conseguiram curar 42 dos 58 embriões. Caso essas gestações fossem levadas para frente, portanto, 72% dos bebês nasceriam saudáveis, e só 28% teriam a doença. Os resultados foram publicados na Nature.

“Esses resultados são um grande avanço”, afirmou ao The Guardian Richard Hynes, geneticista do MIT que não participou do estudo. “Isso traz a técnica de edição genética mais perto dos testes clínicos. Mas ainda há muito trabalho a ser feito.”

Os autores do estudo concordam. “Ainda há barreiras regulatórias demais nos Estados Unidos para sequer começar a considerar uma gestação. O público terá muito tempo para pensar se isso deve mesmo ocorrer”, afirmou Alta Charo ao New York Times.

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Afinal, o que é CRISPr-Cas9?

Grosso modo, é o nome de uma dupla de proteínas. Elas funcionam assim: quando uma bactéria é atacada por um vírus e sobrevive para contar a história, ela guarda pequenos trechos do código genético dele para identificá-lo no futuro. Precaução, como andar por aí com a foto de um serial killer no bolso para reconhecê-lo na rua.

Se essa bactéria for ameaçada pelo mesmo vírus no futuro, ela libera uma proteína que picota o DNA do invasor como uma tesoura. Acontece que a medicina percebeu que esse método de identificação e ataque pode ser usado para cortar qualquer molécula de DNA, não só as de vírus perigosos. “Basta” programar a proteína para caçar o gene problemático, e então substituir o trecho com a mutação por uma versão corrigida.

Além das óbvias objeções éticas e religiosas, a técnica enfrenta dois problemas práticos. Um é garantir que todas as células do organismo que está passando pela terapia sejam modificadas uniformemente – não adianta curar só metade do embrião.

Outro é evitar efeitos colaterais. Uma molécula de DNA é feita de longas sequências de bases nitrogenadas – as famosas letras A, T, C e G. Se um gene com uma mutação tiver uma sequência de letras muito parecida com a de um gene saudável, a proteína pode errar o alvo, causando alterações imprevisíveis e potencialmente perigosas no material genético.

Os cientistas conseguiram evitar o segundo problema – de longe o mais perigoso – no estudo da última quarta-feira. Afinal, um tratamento que tem chances de não funcionar é algo bastante aceitável, mas um que causa doenças piores do que as que está tentando resolver, não.

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Antes da equipe de Oregon, médicos de universidades chinesas já haviam modificado embriões humanos usando CRISPR-Cas9 – mas todos os experimentos, em maior ou menor escala, acabaram tropeçando em um dos dois problemas acima.

Além disso, com o aperfeiçoamento da técnica, novos problemas estão surgindo. Um deles é obrigar as células a usarem o parâmetro de correção fornecido pelos cientistas para fazer a “manutenção” no gene que está com problemas.

No experimento norte-americano, dos 42 embriões curados, 41 ignoraram as bases nitrogenadas fornecidas pelos cientistas, e usaram os genes das células maternas saudáveis para corrigir o problema – um caminho diferente para alcançar a mesma solução, em que a célula percebe que há algo errado graças à intervenção médica, mas resolve o problema por conta própria.

 

Esté conteúdo foi publicado originalmente na Superinteressante.com

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