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Brasileiros sabem enfrentar o diabete, mas não o fazem. Por quê?

Pesquisa mostra que a maioria dos entrevistados conhece os hábitos que controlam o diabete. Mas isso não se converte em ação. SAÚDE investiga o paradigma

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 21 dez 2017, 17h01 - Publicado em 10 nov 2016, 19h14

Conscientizar a população sobre uma doença e seus sintomas é um dos primeiros passos para enfrentá-la adequadamente. Mas ele não é o único — e um levantamento com mais de 2 002 pessoas realizado pelo Ibope, a pedido da farmacêutica Merck, dá uma boa ideia disso. Com base nele, observa-se, por exemplo, que 92% dos diabéticos e cuidadores sabem que as atividades físicas são fundamentais para o controle e a prevenção da encrenca.

Ainda assim, 64% seguem no sedentarismo. “Informação é diferente de transformação. Há obstáculos que travam a mudança de estilo de vida e a adesão aos medicamentos”, analisa o endocrinologista Márcio Krakauer, da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Sim, até o uso dos remédios está aquém do desejado. De acordo com a pesquisa, 24% dos participantes relataram já ter interrompido o tratamento pelo menos uma vez. “E provavelmente vários dos entrevistados que disseram não ter abandonado a terapia já fizeram isso e não contaram. Os estudos científicos, que de fato acompanham a vida dos pacientes, mostram que de 70 a 90% deles não adere direito à terapia”, compara Krakauer. De novo vem a pergunta: por que o indivíduo deixa de se medicar, mesmo sabendo que o remédio ajuda a evitar problemas graves?

Leia também: Estresse tem impacto no diabete?

Segundo especialistas entrevistados pela SAÚDE, falta, entre outras coisas, empoderar os enfermos. Como assim? “Ele tem que se sentir parte ativa do tratamento em vez de chegar ao consultório, receber ordens e sair de lá com uma receita e cheio de dúvidas”, explicou Mauro Scharf, endocrinologista e diretor clínico do Centro de Diabetes de Curitiba, durante um evento organizado pela farmacêutica Sanofi. É aquela história de que não dá para transferir a responsabilidade de sua saúde para o profissional.

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Aliás, talvez isso ajude a compreender o fato de que 66% dos diabéticos e cuidadores do estudo do Ibope marcaram consultas médicas e exames para controlar a enfermidade, mas somente 39% apostam na alimentação balanceada como forma de amenizá-la. E os exercícios? Não mais do que 10% dos indivíduos alegaram recorrer a ele para reduzir a glicemia. Ou seja, a maioria espera que o profissional resolva sua situação sem de fato participar ativamente desse objetivo.

Jornalista, portadora de diabete tipo 1 e ativista na área, Vanessa Pirolo acredita que é necessária uma mudança na relação entre o doutor e o diabético. “Falta motivação. E o médico não vai incentivar ninguém em dez minutos. Ele precisa estar mais junto e propor soluções práticas no dia a dia”, argumenta. O endocrinologista Mauro Scharf vai além e destaca a importância de uma discussão aberta sobre os caminhos a serem tomados para contornar o problema e suas consequências.

“Hoje eu atendo com o Google aberto. A pessoa vem e a gente debate juntos o que está circulando pela internet e o que dá para fazer no cotidiano em nome de sua saúde”, afirma. “A informação está aí para todo mundo. Não temos que lutar contra ela, mas saber agir diante desse conteúdo”, conclui.

Outra barreira que engessa as atitudes dos diabéticos é o medo. Ora, a todo momento eles ouvem que o excesso de atividade física causa hipoglicemia, que um erro na dose de insulina ou na de outro remédio traz consequências severas, que a alimentação precisa ser extremamente restritiva para não catapultar a taxa de açúcar no sangue… “É até natural que permaneçam inertes diante de tantas supostas limitações”, raciocina Scharf.

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É necessário, em suma, mudar a forma de encarar a doença. Exemplo: Mauro Scharf participou de uma corrida de aventura na Islândia junto com diabéticos do tipo 1. Batizada de T1D Challenge, ela trouxe desafios consideráveis aos participantes, como ajustar a quantidade de insulina injetada em um exercício prolongado e aprender a lidar com determinados sintomas — além de dormir em barracas, atravessar rios…

Mas, acima de tudo, a prova mostrou que esses indivíduos conseguem se superar e aproveitar uma vida plena adotando os devidos cuidados. “Eles passaram por uma experiência que pouca gente considerada saudável teve a coragem e a capacidade de fazer”, diz Scharf.

Essa sensação de pertencer a algo maior e de querer curtir os muitos anos pela frente é valiosa para a adesão. Nesse sentido, associações de pacientes podem ser uma boa. Ao olhar para um desconhecido que passa pela mesma situação, você aprende certos macetes, ensina outros… e ganha ânimo para incorporar o tratamento no dia a dia sem sofrer tanto.

Educação e acesso

Também não dá para negar que uma boa adesão depende de acesso fácil e contínuo aos medicamentos (e a alimentos saudáveis, a locais para se exercitar…). Daí porque devemos cobrar os órgãos públicos para normalizarem a oferta de insulina e glicosímetros, só para citar duas coisas que andaram em falta em vários municípios nos últimos meses. Além disso, informações específicas sobre como lidar com efeitos colaterais, com a dose da medicação e por aí vai precisam chegar ao paciente. A questão, aqui, é que essas orientações variam entre um e outro — logo, encontrar um bom time de profissionais para ajudá-lo nessa aventura faz toda a diferença para que ela seja mais doce e tenha menos percalços.

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