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Exercício para manter o cérebro em forma

E não estamos falando de palavras cruzadas. Trabalhos comprovam que colocar o corpo para se mexer preserva os neurônios e evita doenças como Alzheimer

Por Goretti Tenorio
Atualizado em 26 fev 2018, 11h09 - Publicado em 24 fev 2016, 13h35

Com o avançar dos anos, corpo e cabeça começam a perder agilidade, seja para apertar o passo e entrar no elevador antes que a porta se feche, seja para se lembrar “Em que andar fica mesmo o consultório médico?”. Mas a boa-nova é que a ciência está atestando o poder “dois em um” dos exercícios em evitar a progressão tanto do declínio físico quanto do mental.

Se há tempos sabemos que a malhação tem papel fundamental na manutenção de músculos e ossos, agora os pesquisadores voltam a atenção para sua influência no desempenho da cuca. “Hoje já é possível verificar os benefícios da atividade física no funcionamento cerebral por meio de diferentes parâmetros”, diz o neurologista Fabio Gobbi Porto, da Universidade de São Paulo (USP). “Do ponto de vista anatômico, por exemplo, as modalidades aeróbicas ajudam a preservar o volume de áreas ligadas às lembranças, como o hipocampo”, exemplifica.

Em um estudo coordenado por Porto, idosos com comprometimento cognitivo leve (CCL), condição em que a memória e a atenção começam a falhar, foram submetidos a exames de ressonância magnética para avaliar o sistema nervoso central antes e depois de 24 semanas de suor em cima da esteira. E a comparação não deixa dúvida: a comunicação entre os neurônios ganhou ritmo e eficiência com o fim do sedentarismo. De tão impressionante, o trabalho venceu o Prêmio SAÚDE na categoria Saúde e Atividade Física em 2014.

Coincidência ou não, na edição do ano seguinte uma investigação parecida — esta da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro — levou o mesmo troféu. “Resolvemos investigar se os exercícios favoreceriam até gente com predisposição para o déficit cognitivo”, conta a educadora física Carla Nascimento, líder do trabalho.

Em primeiro lugar, ela e sua equipe recrutaram 67 senhores e senhoras, que passaram por testes neuropsiquiátricos para determinar habilidades recordatórias. Fizeram também exames de sangue para apurar, entre outras coisas, o aparecimento de substâncias inflamatórias associadas à degeneração neuronal. Além disso — e aí vem o diferencial —, inspecionaram o DNA dos participantes. Nessa etapa, o objetivo era identificar pessoas com genes capazes de prejudicar a fabricação do fator neurotrófico derivado do cérebro, substância conhecida pela sigla em inglês BDNF e que faz as células nervosas se multiplicarem e trabalharem direito. A carência da molécula abre as portas para demências.

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Mas cadê o empenho físico nessa história? Do total de voluntários, 35 (alguns com CCL e outros sem) aderiram a um programa de quatro meses que envolvia 60 minutos de agito, três vezes por semana. As práticas incluíam caminhadas para incrementar o fôlego, deslocamentos em zigue-zague ou jogando uma bola para o alto — o que aprimora o equilíbrio — e, por último, desafios como flexões de pernas e braços, que conferem vigor aos músculos.

Tudo isso sempre com os batimentos cardíacos entre 65 e 70% da frequência máxima. Os resultados não poderiam ser mais animadores: todo esse esforço aplacou os lapsos de memória, aumentou a concentração de BDNF e derrubou os fatores inflamatórios. Detalhe: essas conquistas se estenderam inclusive para aqueles indivíduos cuja carga genética não ajudava muito a manter a mente afiada.

Ok, não restam dúvidas de que vencer o sedentarismo ajuda a brecar a progressão de enfermidades neurodegenerativas — até porque deixar a preguiça de lado afasta obesidade, diabete, hipertensão e outros problemas atrelados aos brancos na memória. Mas será que esse hábito não criaria uma poupança preventiva contra males que passam uma borracha nas nossas recordações mais valiosas?

De acordo com Fabio Porto, sim. “A doença de Alzheimer começa anos antes de os primeiros sinais se manifestarem”, esclarece o neurologista. “Aos poucos, placas amiloides vão se depositando entre as células do cérebro e atrapalhando a comunicação entre elas, as chamadas sinapses”, conta. Acontece que os esportes turbinam o aporte de sangue dentro do crânio, otimizando a performance dos neurônios. “Isso não quer dizer que quem faz exercício se livra dos depósitos de placas amiloides. Só que a pessoa ativa, ao incrementar as conexões cerebrais, cria uma reserva cognitiva capaz de resistir às agressões”, esclarece Porto.

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No amplo rol das virtudes da atividade física para a cabeça entra também a prevenção de distúrbios psiquiátricos. Em um artigo publicado na Revista Britânica de Medicina Esportiva, pesquisadores chineses analisaram resultados de 24 levantamentos, somando mais de 190 mil participantes, e concluíram: quem fica paradão está 25% mais propenso a mergulhar na zona de tristeza profunda. Os dados foram esmiuçados a ponto de revelarem o impacto de diversos tipos de inércia. Permanecer muito tempo vendo televisão, por exemplo, aumenta o risco de melancolia extrema em 13%. Já o uso exacerbado de computador e internet eleva essa probabilidade em 22%.

Os malefícios de se render a telas e telinhas apareceu também em uma apuração conduzida no Centro de Atividade Física e Investigação Nutricional da Universidade Deakin, na Austrália. Os achados mostram que se entreter somente com ocupações que exigem pouco ou nenhum movimento pode desencadear ansiedade, uma condição marcada pelo excesso de preocupação, dores de cabeça, falta de ar e tensão muscular. Fuja dessa!

Corra dos perrengues nervosos

O experimento da Unesp sugere que não há por que discriminar um ou outro tipo de exercício quando o assunto é saúde mental. Afinal, foi um conjunto de práticas diferentes que repercutiu tão positivamente. E, embora sejam mais numerosas as evidências associando uma cuca fresca a modalidades aeróbicas como corrida e caminhada, de fato não há motivo para menosprezar a musculação. Além de proporcionar ganho de massa muscular, equilíbrio e coordenação motora — fatores especialmente importantes na população mais madura —, o levantamento de peso também parece mexer com a cachola. “Ainda são poucas as investigações dos efeitos desse tipo de atividade no cérebro, mas dá pra afirmar, sim, que treinos de força estimulam a produção de neurônios. Por consequência, favoreceriam a cognição”, diz o neurofisiologista Ricardo Mario Arida, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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Na verdade, a palavra-chave para obter acesso às vantagens dos exercícios é regularidade. Nesse quesito, há profissionais que apostam em uma hora de hidroginástica, ciclismo ou o que for, três vezes por semana. Outros propõem 30 minutos todos os dias, na intensidade ajustada à sua condição física. Uma coisa é certa: basta começarem as sessões que seu sistema nervoso será inundado de neurotransmissores como noradrenalina, serotonina e dopamina. Essas substâncias estão por trás das sensações de bem-estar e relaxamento, dão um chega pra lá na falta de disposição e afiam o raciocínio, a concentração e a atenção. Está aí um esforço que garantirá vida longa às suas lembranças.

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