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O fim do xixi na cama

No Dia Mundial da Enurese, listamos as soluções para o escape de urina durante o sono, que sabota a autoestima do pequeno e a tranquilidade da família

Por Andressa Basílio
Atualizado em 14 fev 2020, 18h27 - Publicado em 30 Maio 2017, 08h30

É na calada da noite, sem tempo de reagir, que as águas rolam no colchão. Mas o que começa sorrateiro desata uma autêntica maratona depois que o xixi foi derramado: tem que trocar o lençol, secar a cama, mudar o pijama… Essa é a rotina estressante de quem convive com a enurese — estima-se que entre 15 e 20% das crianças de até 12 anos enfrentem o problema, a maioria meninos. O diagnóstico só é feito após os 5 anos, idade em que o sistema nervoso já amadureceu o suficiente para controlar a micção. Quando isso não acontece e os escapes à noite são frequentes, é melhor pedir ajuda ao médico.

Existem dois tipos de perda involuntária de urina durante o sono. A mais comum, a enurese primária, é flagrada quando a criança nunca conseguiu segurar o xixi na cama. “Sua origem é multifatorial e passa por alterações na secreção do hormônio antidiurético à noite, contrações involuntárias na bexiga e até distúrbios do sono”, lista a médica Lucila Bizari Fernandes do Prado, presidente do Departamento Científico de Medicina do Sono da Sociedade Brasileira de Pediatria.

A genética também influencia. Quase metade dos pequenos que urinam no leito teve um dos pais passando pela mesma situação. “Se pai e mãe apresentaram enurese, o risco de o filho ter sobe para 77%”, conta José Murillo Bastos Netto, coordenador-geral do Departamento de Uropediatria da Sociedade Brasileira de Urologia.

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A outra versão do problema, a secundária, ocorre quando a criança já adquiriu controle sobre o xixi, mas passa a sofrer com os episódios na madrugada. Eles podem ser consequência de doenças como diabete ou conflitos emocionais — a dificuldade para lidar com a chegada de um irmãozinho, por exemplo. Independentemente da causa, o fato é que o xixi na cama tem implicações psicológicas. Embora não leve a perrengues como infecções, algo que acontece na incontinência urinária, marcada por escapes inclusive ao longo do dia, a enurese noturna desperta culpa, vergonha, medo de ser ridicularizado e bagunça a autoestima. “Já tive caso em que a criança foi viajar com a escola e passou a noite toda em claro para não ensopar a cama”, ilustra a psicóloga Deisy Emerich, professora das Faculdades Metropolitanas Unidas.

O impacto na família também não deve ser ignorado, até porque às vezes a reação dos pais bota mais lenha na fogueira emocional. Agressões verbais ou físicas, identificadas com frequência nos estudos, só tendem a desgovernar a situação. E mesmo algumas táticas caseiras, empregadas na melhor das intenções, podem piorar as coisas.

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Em pesquisa, a psicóloga Deisy notou que muitos pais apelam para fraldas e protetores de colchão, por exemplo. “Só que colocar fralda constrange e infantiliza a criança. É um retrocesso em vez de ajudá-la a amadurecer”, esclarece.

O diagnóstico da enurese passa por um exame clínico detalhado e, em alguns casos, requer até testes neurológicos. Confirmado o problema, o especialista buscará a melhor saída. Entre as soluções mais comuns estão a prescrição de remédios específicos e o uso do alarme sonoro, que tem um sensor de umidade instalado na roupa íntima — assim que escoa a primeira gota de urina, ele dispara e faz a criança acordar e procurar o banheiro. A repetição desse expediente ajuda o cérebro a se entender melhor com a bexiga.

A escolha da estratégia terapêutica deve ser avaliada por especialista, paciente e família, até porque cada via comporta vantagens e desvantagens. “A medicação traz resultados rápidos, mas, quando deixa de ser usada, mais da metade das crianças volta a urinar na cama”, explica o urologista pediátrico Ubirajara Barroso Jr., professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.

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O alarme sonoro traz resultados lentos, porém mais definitivos, com taxas de cura que chegam a 50%. “Porém, não indico a pais que se estressam muito com a enurese do filho ou que tenham insônia, pois o barulho pode incomodar e prejudicar os avanços”, pondera.

Por isso, um reforço e tanto no combate à chateação é o que Barroso Jr. chama de “escola do xixi”, uma espécie de cursinho que ajuda a criança a tomar consciência do problema e do seu corpo e a assumir uma postura mais ativa para controlar as escapadas noturnas — sempre com incentivo e participação da família. Como uma parcela considerável dos casos é acompanhada de danos psicológicos, é desejável pedir socorro a um psicoterapeuta.

“Quanto antes houver esse acompanhamento, menor será o impacto negativo na vida da criança”, afirma Deisy. Um bom suporte nessas horas é o que faz diferença para a autoestima não ir pelo ralo e a cama tornar-se um lugar tranquilo e sequinho.

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Como minimizar os escapes

Devagar com os copos: instrua a criança a maneirar no consumo de água, sucos e refris após o jantar.

Controle na carga de sal: o excesso do ingrediente na comida faz o corpo reter líquido e dá aquela sede. Não abuse.

Pit stop antes de dormir: incentive o pequeno a esvaziar a bexiga momentos antes de se deitar. Faz diferença.

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Reforço positivo: monte, junto com a criança, um calendário de noites secas e molhadas. O objetivo é premiar as noites livres de xixi.

Sem broncas: a criança não tem culpa pelos escapes. Brigas e castigos não ajudam em nada na resolução do problema.

O arsenal disponível contra a enurese

Tratamento O que é? Principais indicações Eficácia
Remédios Há dois tipos de medicação: uma
drena o líquido dos rins e a outra
relaxa a parede da bexiga.
Atuam no controle rápido do
quadro. Os efeitos aparecem
nas primeiras semanas.
Como não tratam a causa, os escapes tendem a voltar com
a suspensão dos medicamentos.
Alarme sonoro Um dispositivo com sensor de umidade
é colocado dentro da roupa íntima ou
no colchão. Ele dispara quando é molhado e faz a criança ir ao banheiro.
Entra em cena quando se busca
um resultado mais duradouro.
O método ajuda a criança a condicionar o controle do xixi.
É considerado uma boa opção pelos experts, justamente
por melhorar a comunicação entre bexiga e cérebro.
Eletroestimulação O fisioterapeuta usa eletrodos na
região parassacral. Eles emitem estímulos elétricos para aprimorar
a conexão entre bexiga e cérebro.
Funciona melhor para crianças
com incontinência urinária. Para quem tem escapes só à noite,
deve ser aliada a outras técnicas.
Embora vá muito bem na incontinência, novos estudos precisam medir seu impacto
na enurese noturna.
Psicoterapia Acompanhamento psicológico
com um profissional que
entenda do assunto.
Recomendada a crianças
com prejuízos emocionais e
sociais decorrentes da enurese.
Evita repercussões mentais graves e, junto a outras técnicas, ajuda a superar o problema.

 

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