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Psoríase: a doença de pele pode deflagrar problemas no coração

Placas avermelhadas e descamações pelo corpo são o sintoma mais comum da psoríase. Mas ela também pode deflagrar males cardiovasculares

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 1 fev 2021, 16h18 - Publicado em 22 jan 2014, 22h00

Pesquisas recentes mostraram que vítimas de psoríase têm mais chances de sofrer doenças cardiovasculares, como infartos e derrames. A análise preliminar do primeiro levantamento sobre a saúde de psoriáticos no brasil revelou que a maior parte sofre deles têm as formas moderadas ou graves da doença, que apresentam maior risco cardíaco.

A psoríase é uma doença inflamatória crônica da pele, que provoca lesões aparentes no corpo. Cientistas acreditam que o isolamento social decorrente dele ajuda a explicar por que os índices de hipertensão, diabetes, sobrepeso e obesidade são maiores entre os psoriáticos do que entre a população em geral, já que eles praticam menos atividade física cuidam menos da própria saúde. Contudo, mesmo entre grupos de pessoas com psoríase e hábitos de vida saudáveis, a incidência desses problemas é maior. A explicação, segundo o presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, é que a psoríase acarreta uma inflamação crônica que não atinge apenas a pele, mas várias partes do organismo.

Leia a íntegra da reportagem abaixo.

Há cerca de uma década, a psoríase, que ataca de 1 a 2% das pessoas ao redor do globo, era considerada só uma doença de pele – no máximo, uma ameaça às articulações. “Entretanto, pesquisas epidemiológicas identificaram um maior risco de suas vítimas terem infartos ou derrames”, revela o clínico geral Juan Carlos Verdeal, do Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio de Janeiro. Com a descoberta, ficou claro que o transtorno se caracteriza, na verdade, por um desequilíbrio sistêmico cuja principal manifestação – não a única! – é cutânea.

No Brasil, o primeiro levantamento que traça a saúde de psoriáticos atendidos em centros de referência, organizado pela Janssen-Cilag Farmacêutica em conjunto com 26 instituições de renome do país, está em fase final de compilação dos dados. “Mas a análise preliminar, feita com 877 dos 1 124 voluntários, já é confiável e traz achados impactantes”, assegura Ricardo Romiti, dermatologista do Hospital das Clínicas de São Paulo e um dos coordenadores do estudo.

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Formas moderadas e graves predominam

Para início de conversa, metade dos indivíduos avaliados padecia com formas moderadas ou graves do distúrbio, justamente as mais ligadas a piripaques no peito. Nesses casos, as lesões se espalham por pelo menos 10% da área corporal ou, mesmo quando menos frequentes, atingem regiões muito expostas, abalando a qualidade de vida pra valer – as mãos e o rosto são dois exemplos. “Verdade que, na população nacional inteira, os quadros severos devem ser menos comuns, porque pacientes encaminhados aos centros de referência geralmente são os mais sintomáticos”, pondera Romiti. Ainda assim, estamos diante de um contingente enorme de brasileiros que precisa de atenção especial com o coração. “A questão é que poucos deles sabem disso”, lamenta Carlos Magalhães, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.

O trabalho aponta que, entre os participantes, 17% apresentavam diabete, 32% hipertensão e 75% sobrepeso ou obesidade, índices bem acima dos encontrados na população sem psoríase. “Uma explicação está no fato de que eles às vezes ficam reclusos”, afirma Marcelo Arnone, coordenador do Departamento de Psoríase da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Aí, fazem pouco exercício, comem pior e cuidam menos de si”, diz. Será que é só isso?

O isolamento social decorrente da psoríase – que, vale reforçar, patrocina atitudes pouco saudáveis – nos ajuda a entender as altas taxas de panes cardíacas em gente com o distúrbio. Contudo, ele não deve ser o único responsabilizado por isso. “Quando se comparam pacientes a sujeitos sem a doença, mas com hábitos iguais, a probabilidade de os primeiros possuírem uma complicação no sistema cardiovascular continua maior”, argumenta Arnone. Exemplo: um psoriático que abandonou as atividades físicas por causa de sua condição segue com um risco maior de infartar do que um sedentário qualquer.

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Processo inflamatório contínuo

Então, o que mais justificaria essa relação? “A psoríase, por si só, acarreta uma inflamação crônica que atinge diversas partes do organismo”, assegura Magalhães. Esse processo é incitado por diversas moléculas, como o TNF-alfa e as interleucinas. “E elas, fora danificarem a pele, favorecem o diabete, o entupimento dos vasos e por aí vai”, diz Romiti.

Aí é que está: a psoríase não é o único mal a agredir a derme por meio de processos inflamatórios contínuos. “Outra enfermidade com esse traço é o lúpus eritematoso sistêmico”, avisa o reumatologista Sebastião Radominski, da UFPR. Mais rara, tal doença autoimune, além de deteriorar as articulações, provoca lesões avermelhadas na face em formato de asa de borboleta. “Paralelamente, contribui para a formação de placas nas artérias, motivo pelo qual muitas de suas vítimas tomam remédios para o colesterol”, completa Radominski.

Hoje, médicos também já começam a apurar uma suposta ligação entre a dermatite atópica, espécie de alergia intensa que fomenta eczemas e descamação, e ameaças aos vasos. “Não sabemos se ela é um fator de risco cardiovascular isolado, mas, por ter um componente inflamatório crônico, precisamos ficar de olhos abertos”, opina Magalhães.

Fumaça e gordura na história

Em meio a especulações, provado mesmo é o efeito nefasto do tabagismo para a pele e o coração. As tragadas envelhecem as células do organismo, deixando a cútis enrugada e diminuindo a flexibilidade dos vasos sanguíneos, o que catapulta as taxas de infarto e derrame. Está aí uma mostra de como certos comportamentos são capazes de detonar – ou, na contramão, preservar – a epiderme e o músculo mais importante do corpo.

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Outro indicativo da influência dos nossos hábitos vem da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. Lá, 60 obesos com psoríase foram divididos em dois grupos: um passou a receber um cardápio equilibrado, enquanto o outro serviu de controle, sem se preocupar com as garfadas. Ao final de quatro meses, a primeira turma manifestava menos sintomas da encrenca. “O excesso de peso gera inflamação e talvez o emagrecimento atenue esse processo, melhorando o controle da doença”, hipotetiza o dermatologista Claus Zachariae, autor do artigo. Mas mesmo quem não sofre com psoríase se dá bem ao entrar em forma. Sem inflamação crônica por perto, a pele se manterá firme e o coração vai continuar batendo forte.

Juntas sob perigo

De 15 a 20% das pessoas que têm psoríase desenvolvem a artrite psoriática. “Trata-se de um problema que gera deformidades e muitas dores nas articulações”, esclarece Sebastião Radominski, chefe da especialidade de reumatologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba. Hoje, existem boas drogas contra a chateação, porém o melhor jeito de se proteger mesmo é procurar um diagnóstico precoce.

Quando o coração afeta a pele

Determinados micróbios, se chegam às válvulas cardíacas, ocasionam a endocardite bacteriana, infecção que pode ser fatal. “Nesse caso, é comum o surgimento de pequenas hemorragias embaixo das unhas e nódulos nos dedos”, aponta Juan Carlos Verdeal. Já recém-nascidos com uma pele meio azulada devem ser avaliados com a suspeita da chamada cardiopatia congênita cianótica.

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O possível elo entre problemas de pele e alguns males

Obesidade

Moléculas inflamatórias vindas da pele talvez estimulem o estoque de gordura nos adipócitos, células que, bem recheadas, fazem a barriga crescer.

Hipertensão

A inflamação agride o endotélio, camada interna dos vasos que produz óxido nítrico. Baixos níveis dessa substância permitem que a pressão suba.

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Diabete

A resistência à insulina, etapa inicial dessa doença, seria agravada por substâncias produzidas aos montes em gente com lúpus, psoríase…

Infarto e AVC

O processo inflamatório facilita a deposição de colesterol e outros entulhos na parede dos vasos. Aí cresce o risco de placas e entupimentos ali.

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