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O que temos à disposição contra um câncer infantil

Conversamos com a oncopediatra Neysimélia Costa Villela, do Hospital de Câncer de Barretos, sobre o neuroblastoma, um tumor pediátrico que ganhou destaque em recentes rodas de discussão médicas

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 28 out 2016, 00h41 - Publicado em 28 jul 2016, 16h18

Apesar de raro, o neuroblastoma é um câncer pediátrico que preocupa por sua potencial agressividade. Dependendo da existência de uma mutação, ele pode evoluir rapidamente e apresentar taxas de sobrevivência mais baixas do que a média de tumores infantis. Nesta conversa com a SAÚDE, Neysimélia Costa Villela, oncopediatra responsável pela Unidade de Transplante de Medula Óssea Pediátrica do Hospital de Câncer de Barretos (SP), traça um panorama dessa doença e o que temos hoje à disposição para enfrenta-la.

SAÚDE: O que é o neuroblastoma?

Neysimélia Costa Villela: É um câncer que se origina fora do crânio, em células nervosas que em geral constituem a glândula suprarrenal ou gânglios nervosos fora do cérebro. O lugar mais comum de encontrá-lo, portanto, é na região abdominal. Mas também pode surgir no tórax ou até na região cervical. Algumas vezes o diagnóstico é feito porque se nota um nódulo na barriga. Ou, quando tumor reside no tórax, por falta de ar. As manifestações são variadas, até porque ele pode se espalhar pelo corpo.

Quando o neuroblastoma costuma aparecer?

Em 90% dos casos, ele atinge crianças com menos de 10 anos. Aliás, 75% dos pacientes têm até 4 anos. Só vale lembrar que não temos uma estatística nacional confiável.

Essa doença é sempre muito agressiva?

Nem sempre. Mas ele pode ser muito agressivo, principalmente em crianças mais velhas com uma alteração genética específica. Esse é o neuroblastoma de alto risco, no qual só 30% dos pacientes vivem mais de cinco anos. É uma média muito abaixo dos tumores pediátricos. Mas os casos de baixo risco, em crianças menores sem essa alteração, têm índices de cura elevados.

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Como é o tratamento atualmente?

O neuroblastoma de baixo risco é tratado com cirurgia. E a maioria das crianças precisa de quimioterapia e radioterapia também. Já as com a versão de alto risco necessitam do transplante autólogo de medula óssea. E esse na verdade é só um jeito que a medicina arrumou de aplicar altas doses de químio sem destruir a medula, uma estrutura fundamental para a vida.

Como assim?

O transplante autólogo funciona assim: primeiro coletamos parte da medula da criança e a deixamos congelada. Aí a gente aplica a químio em altíssima dose para atingir o neuroblastoma e, nisso, danificamos a medula que está no paciente. Por isso que depois nós pegamos aquela medula congelada e a reaplicamos. O procedimento é simples. O problema é que essa medula não vai voltar a funcionar no mesmo dia. Geralmente demora de duas a quatro semanas. E, durante esse tempo, a criança fica sem defesa nenhuma contra infecções, por exemplo. Por isso, elas ficam isoladas em unidades com um controle bem rígido de higiene e tráfego de pessoas.

Foi discutido na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica um estudo que testou um transplante autólogo duplo. Como a senhora vê isso?

Esse método é basicamente fazer mais uma vez o que eu acabei de descrever. E a técnica vem sendo testada mesmo, em especial porque, infelizmente, há mais ou menos dois anos a gente descobriu que o transplante simples não mudou muito a progressão do neuroblastoma de alto risco. A ideia do transplante autólogo duplo é possibilitar que a criança receba mais dose ainda de químio. Eu dou, espero o paciente se recuperar e dou de novo.

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Mas a senhora acha que devemos usar esse tipo de tratamento?

Ainda é cedo pra tirar qualquer conclusão. Precisamos ter dados sólidos para mexer com isso, porque é um tratamento agressivo. Parece uma novidade interessante, porque tem, sim, possíveis benefícios e não podemos ficar parados frente a uma doença com índice de cura tão baixo. Mas precisamos de mais estudos ou pelo menos experiências maiores.

Quais são os efeitos colaterais dos transplantes autólogos?

É um momento delicado, porque uma quimioterapia de alta dose multiplica as reações indesejadas. É muito comum ter mucosite [lesões na boca], febre, sangramento. Mas o grande risco ainda é infecção, porque perdeu a medula velha e ainda não tem a nova. Isso sem contar a toxicidade para fígado, rim etc.

Tem muitas crianças que não vão para o transplante, porque não o tolerariam?

Sim. E também temos que ver se a criança responde ao quimioterápico. Se não tiver qualquer indicação disso, nem fazemos o transplante para ao menos evitar efeitos colaterais sem trazer qualquer benefício.

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