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Diabéticos, preparem o seu coração

Porque as coisas que vamos contar soam como um alerta: uma em cada duas mortes entre pessoas com diabete é causada pela doença cardiovascular. Saiba o que você e a medicina podem fazer para escapar dessa ameaça

Por Diogo Sponchiato
Atualizado em 26 out 2016, 10h00 - Publicado em 29 ago 2016, 13h27

Digamos que, por ironia do organismo, o coração de quem tem muito açúcar correndo pelas veias não leva uma vida tão doce. É que o diabete, e o panteão de alterações que faz companhia à alta da glicose, semeia a discórdia nas artérias, elevando o risco de infarto e outras mazelas cardíacas. Não é por menos que a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) dá início à sua nova campanha nacional “Diabetes sem Complicações” focando o combate à doença cardiovascular. “Queremos conscientizar essa população de que, além de ajustar a glicemia, ela precisa aderir a um pacote de medidas visando ao controle do peso, da pressão, do colesterol…”, justifica o endocrinologista Luiz Turatti, presidente da SBD.

É um alerta que deveria ser ouvido por muita gente. Estima-se que 10% dos brasileiros (mais de 20 milhões) tenham diabete e 90% dessa fatia conviva com o tipo 2 do problema — como ele pega carona na obesidade, as projeções indicam um crescimento nos números. “O diabete é marcado por um processo inflamatório, que favorece a formação e a instabilidade das placas que entopem os vasos”, ensina o cardiologista Ricardo Pavanello, diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Na verdade, dá pra encher um tratado com tantos fenômenos indesejáveis que ligam o tipo 2 da encrenca ao sofrimento do coração.

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“A resistência à insulina, que impede o uso adequado da glicose pelas células, atrapalha a dilatação das artérias, elevando a pressão”, cita uma das peças do quebra-cabeça o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto. Pavanello elenca outra: “O corpo do diabético tem uma maior tendência à formação de trombos”. Em conjunto, essas pecinhas levam a um mesmo desenho — uma artéria que irriga o músculo cardíaco é bloqueada e, sem suprimento de sangue, o coração sofre um infarto. “Devemos lembrar ainda que, muitas vezes, o diabético também tem gordura no fígado e na barriga, apneia do sono, alterações de colesterol… É uma rede de fatores intrincada”, ressalta Couri. E que pode culminar em um golpe ao peito.

O diabete é inimigo notável do sistema de encanamento que distribui o sangue pelo organismo. Maltrata tanto artérias maiores, como as coronárias que abastecem o coração, como vasinhos no fundo do olho. “Dá pra supor que o paciente é diabético só de ver exames como o cateterismo dele”, conta Pavanello. Isso porque suas artérias se encontram mais tortuosas e apresentam lesões em vários pontos. “Por essa razão, cirurgias de ponte de safena são mais efetivas do que stents [minibalões instalados para desobstruir os vasos] nessa população”, revela Couri.

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Ocorre que o drama cardíaco não termina apenas em infartos. Anos de diabete fora de controle sobrecarregam o órgão, que não consegue mais relaxar a contento. Aí ele endurece literalmente e entra em estado de insuficiência. O quadro, conhecido como cardiopatia diabética, tem alta letalidade e cobra acompanhamento de perto. Mas saiba que o coração não precisa bater na corda bamba ou sob o temor de um ataque. Há um plano de ação para poupá-lo do perigo — e a ciência vem se aperfeiçoando nessa missão.

Pela salvação do peito

Não é fácil rever e mudar o estilo de vida. Tenha em mente, porém, que, em se tratando de diabete, os ajustes na rotina — alimentação equilibrada, prática regular de exercícios, respeito ao sono, entre outros — não se revertem apenas em um melhor domínio sobre os níveis de glicose. Eles ajudam a remediar outros fatores de risco cardiovascular que andam de mãos dadas com o mal do sangue doce, caso do excesso de peso. A sintonia com as orientações médicas e o esforço para aderir a comportamentos saudáveis compensam. O coração sabe disso.

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Nessas horas, também é comum (e necessário) que os profissionais peçam socorro a medicamentos. “O desafio da prevenção da doença cardiovascular entre os diabéticos é que não basta domar a glicemia. Temos de controlar a pressão, o colesterol e a formação de coágulos, o que pode exigir remédios diários para atuar nessas condições”, explica o cardiologista José Francisco Kerr Saraiva, professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Não é uma delícia engolir uma porção de comprimidos por dia, mas a tática amplia a expectativa e a qualidade de vida do cidadão. Tanto é que, segundo Couri, a Associação Americana de Diabetes já recomenda o uso de estatina (droga que baixa o colesterol) a todo diabético acima dos 40 anos, mesmo (acredite!) que ele não tenha taxas elevadas de colesterol ruim no sangue. Tudo, argumenta-se, em nome da prevenção.

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O conceito de agregar fármacos, aliás, passa pelo tratamento do diabete em si. “Como estamos falando de um problema de origem multifatorial, precisamos agir em diversas frentes. Hoje é corriqueiro pacientes saírem do consultório com dois ou três tipos de medicamentos prescritos”, relata Couri. Nessa linha, despontou há pouco o primeiro remédio criado para frear a glicemia a demonstrar efeito direto na redução do risco cardiovascular. Trata-se da empagliflozina, desenvolvida pela Aliança Boehringer Ingelheim-Eli Lilly, princípio ativo que aumenta a eliminação de açúcar pela urina.

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Em estudo com mais de 7 mil diabéticos do tipo 2 e alta probabilidade de infartar — brasileiros no meio —, a adição do comprimido ao programa terapêutico (que envolvia outras medicações) chegou a resultados expressivos. “Observou-se uma redução de 38% nas mortes por doença cardiovascular e uma diminuição de 35% no índice de hospitalização por falhas cardíacas”, conta o endocrinologista Andres Palacios, da Universidad Pontificia Bolivariana, em Medellín, na Colômbia. Foi registrado um único efeito adverso: leve aumento nos casos de infecção urinária ou genital. “Não se propõe substituir um remédio por outro, mas adicionar para melhorar a resposta e minimizar o risco do paciente”, argumenta Palacios. Somar, e não se esqueça de botar bons hábitos nessa conta, é o verbo que está ditando a proteção ao coração do diabético.

415 milhões de pessoas têm diabete no mundo hoje — número que deve saltar pra 642 milhões em 2040

50% das mortes entre os diabéticos do tipo 2 vêm de problemas cardiovasculares

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12 anos é quanto encurta a expectativa de vida de alguém com diabete e alto risco cardiovascular

1/3 dos diabéticos desconhece que os problemas do coração são a principal causa de morte entre eles

10% dos brasileiros têm diabete. E atenção: nesse grupo, o infarto costuma ser mais silencioso

50% dos diabéticos do tipo 2 não alcançam a meta de controle da glicemia

 
Sobrou para o coração
Por que o diabete complica tanto a vida do sistema cardiovascular
 
Inflamou geral

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A glicose dando sopa no sangue e a resistência à insulina propiciam um estado de inflamação, que favorece o surgimento de placas nas artérias.

Gorduras mil

Boa parte dos diabéticos tem muita gordura na barriga e no fígado, fator associado a triglicérides e moléculas inflamatórias à solta pelos vasos.

Sob pressão

Entre outras funções, a insulina relaxa as artérias. Quando ela não atua direito, há um déficit nessa dilatação, o que eleva a pressão dentro dos vasos.

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Sangue viscoso

Trombos capazes de entupir artérias se formam mais facilmente na circulação dos diabéticos. Isso porque há uma maior agregação de plaquetas.
 
Saída lá por baixo

Como atua o primeiro remédio para diabéticos capaz de baixar o risco cardíaco

  1. Todo mundo tem uma proteína nos rins, a SGLT2, que capta parte da glicose e do sódio que estava no sangue e a devolve à circulação, impedindo sua eliminação do corpo.
  2. O medicamento empagliflozina inibe a tal da SGLT2, estimulando a saída de açúcar e sódio pela urina. Ele ajuda a domar a glicemia e traria ganhos ao controle do peso e da pressão.

A medicação, de uso oral, faz eliminar quase 80 gramas de glicose do sangue por dia, o que equivale a 300 calorias — ou quase duas latas de refri normal.

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