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Conheça os poderes da vitamina D para a sua saúde

A lista de problemas que têm alguma ligação com a deficiência do nutriente não para de crescer. Será que você está com as doses adequadas?

Por André Biernath
Atualizado em 22 abr 2019, 16h05 - Publicado em 16 nov 2014, 22h00
“Nenhum medicamento até hoje descoberto cura as moléstias de peito e vias respiratórias ou restabelece os débeis, os anêmicos e os escrofulosos [tuberculosos] com tanta rapidez”.” Esse era o texto de uma propaganda sobre óleo de fígado de bacalhau no jornal O Estado de S. Paulo em setembro de 1890. Embora o tônico supostamente prevenisse um sem-fim de doenças, as razões por trás disso eram um mistério. Isso porque, na época, não se conhecia a vitamina D, um dos principais componentes desse óleo — ela seria revelada pela ciência apenas em 1922. Passado quase um século de sua descoberta, a substância continua dando o que falar. “Hoje, sabemos que 200 genes regulam seu aproveitamento e que ela responderia por 80 funções no organismo”, contextualiza o endocrinologista americano Michael Holick, da Universidade de Boston, um dos maiores estudiosos do tema.

Todo esse buchicho levou a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) a lançar o primeiro consenso sobre o assunto por aqui. No documento, eles destacam a importância da vitamina D em diversas áreas da saúde baseados em evidências recentes. “A ideia é solucionar questões que permaneciam em aberto, facilitando o trabalho do profissional”, afirma a endocrinologista Marise Lazaretti Castro, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), uma das autoras do artigo. A diretriz ainda traça uma recomendação mínima de aporte diário em diferentes momentos da vida (0 a 12 meses: 400 UI; 1 a 8 anos: 400 UI; 9 a 18 meses: 600 UI; 19 a 69 anos: 600 UI; mais de 70 anos: 800 UI; gestantes e lactantes: 600 UI).

Ocorre que, infelizmente, o número de pessoas com deficiência do nutriente impressiona. Apesar de ele variar, estima-se que mais da metade dos brasileiros não atinge os índices preconizados. “A exposição diária ao sol, nossa principal fonte, é cada vez menor”, observa o endocrinologista Francisco Bandeira, da Universidade de Pernambuco. E essa escassez pode cobrar um preço elevado na saúde de ossos, músculos, coração…

O papel mais conhecido da vitamina D é na saúde óssea. “A deficiência dela se relaciona ao raquitismo em crianças e à osteomalacia, quando os ossos ficam menos densos, em adultos”, ensina Marise. Vamos por partes. Uma vez disponível, o nutriente viaja até o intestino, onde facilita a absorção do cálcio presente nos alimentos. Portanto, sua falta leva a uma menor disponibilidade do mineral que compõe o esqueleto. E, ao longo das décadas, isso abre as portas para a osteoporose. Aliás, o cuidado deve ser redobrado em mulheres na menopausa e nos idosos, mais suscetíveis às alterações que corrompem a ossatura.

Efeitos dos pés à cabeça

O alvo da nossa reportagem é protagonista em outro componente básico da locomoção: a musculatura. “Ela participa da formação de fibras musculares e garante, por meio do melhor aproveitamento do cálcio, a contração adequada desse grupo de células”, destaca o endocrinologista Antonio Carlos do Nascimento, de São Paulo. A exemplo do que ocorre com a massa óssea, sua rareza nos músculos provoca atrofia e fraqueza. Nos indivíduos de idade avançada, o cenário patrocina quedas. E isso, junto com ossos fragilizados, faz subir bastante o risco de fraturas.

Mas será que restabelecer os níveis da vitamina seria suficiente para evitar tais problemas? Parece que sim. Pesquisadores da Universidade de Basel, na Suíça, deram suplementos da substância a pessoas acima de 60 anos por 12 meses. Ao final do período, o perigo de os tombos acontecerem caiu 49%. Outros levantamentos relatam que músculos importantes nas passadas, como os flexores do quadril e os extensores do joelho, ficam fortalecidos quando há a reposição. “A suplementação é indicada nessa faixa etária, até porque, depois dos 70 anos, a pele perde a capacidade de gerar o suficiente de vitamina D, mesmo se exposta ao sol”, justifica o endocrinologista Sergio Maeda, da Unifesp, outro que assina o documento da Sbem.

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Os obesos também precisam se atentar às baixas do nutriente. É que os adipócitos, células onde a gordura se deposita, retiram a vitamina D da circulação. “Quanto maior o tecido adiposo, mais ela é sequestrada”, assegura a endocrinologista Victoria Borba, da Universidade Federal do Paraná. Não está provado, porém, se a falta da molécula estimula o ganho de peso. “Os estudos nesse sentido são preliminares e trazem resultados conflitantes”, diz.

Fato é que o coração se dá mal com essa carência. Um artigo da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, atesta que o déficit predispõe doenças cardiovasculares. Contudo, a explicação de tal fenômeno permanece uma incógnita. Algumas teorias dão conta de que a vitamina D regularia a renina, uma enzima importante no ajuste da pressão arterial. Outras defendem que atuaria na proliferação de células cardíacas e vasos sanguíneos. “Em Pernambuco, vimos que indivíduos com a deficiência tinham infartos mais graves”, revela Bandeira. Além disso, o consenso brasileiro calcula que desfalques sérios elevam em 50% a probabilidade de morrer por acidente vascular cerebral (AVC) e ampliam de três a cinco vezes o risco de morte súbita.

A despeito de tantos perrengues, aparentemente a suplementação não tem efeito positivo em coração, veias e artérias. Pelo menos experts da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, não encontraram uma relação entre o consumo de pílulas ou gotinhas e o menor perigo de eventos cardíacos numa experiência com 5 mil voluntários. O conselho, nesse sentido, seria não deixar os níveis abaixo do estipulado por muito tempo.

Recentemente, a descoberta de receptores de vitamina D nas células beta do pâncreas, responsáveis por fabricar insulina, levou os cientistas a avaliarem um possível elo com o diabete. “O pâncreas só vai secretar esse hormônio da maneira correta se estiver com a concentração adequada do nutriente”, endossa o endocrinologista Anthony Norman, da americana Universidade da Califórnia, que detectou, na década de 1960, esses receptores no intestino e, posteriormente, em outros órgãos. “Em resumo, acreditamos que a deficiência contribuiria para o aumento da glicose no sangue”, teoriza.

O consenso da Sbem reúne outros trabalhos científicos, todos em fase preliminar, que apontam um risco duas vezes maior de desenvolver diabete tipo 1 entre crianças com déficit da vitamina — se suplementadas, a associação despencava 33%. Já em ratos adultos com taxas mínimas, a elevação da substância na circulação acarretou uma queda de 4% na probabilidade de o tipo 2 da doença aparecer. É esperar para ver se esses indícios se confirmam.

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Na caça por mais evidências

Certos tumores começam a figurar na lista de males provocados pelo estoque baixo de vitamina D. “Em estudos populacionais, sua falta foi ligada ao câncer de intestino, embora os resultados tenham sido inconclusivos em relação aos de mama e próstata”, comenta Maeda. Em testes de laboratório, especialistas conseguiram inibir o crescimento de células tumorais com a administração da molécula. “Entretanto, os efeitos em seres humanos não foram comprovados e a suplementação não pode substituir abordagens terapêuticas convencionais”, pondera o médico.

As enfermidades infecciosas são outro nicho de achados promissores. “A vitamina D estimularia os macrófagos, um tipo de célula de defesa, a sintetizar proteínas que combatem as bactérias causadoras da tuberculose”, exemplifica o endocrinologista Francisco José Albuquerque, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. Por incentivar o sistema imunológico, ela também exerceria uma influência bastante positiva contra infecções vaginais, cutâneas, bucais…

Doenças autoimunes como lúpus e artrite reumatoide, por sua vez, parecem se tornar ainda mais agressivas quando a vitamina D está no chão. Mas, ao abordar esse tipo de encrenca, não há ponto que suscite mais polêmica do que a suplementação da molécula contra a esclerose múltipla. De um lado, alguns poucos profissionais defendem piamente sua aplicação, em doses cavalares, nos pacientes. Do outro, a Academia Brasileira de Neurologia contraindica a prática, argumentando que não existem provas suficientes para oferecê-la como terapia única. “Esse tratamento é meramente experimental, sem quaisquer conclusões definitivas”, afirma Nascimento.

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Aliás, a ausência de pesquisas contundentes em diversas áreas da saúde que envolvam a vitamina D é o ponto que mais preocupa as autoridades. “Nós temos exemplos de outras vitaminas e hormônios supervalorizados no passado. Depois, ficou provado que eles não eram tão espetaculares assim”, contrapõe Albuquerque. Para bater o martelo nos tópicos menos consolidados, diversos trabalhos vêm sendo conduzidos neste exato momento — espera-se que as primeiras conclusões sejam publicadas a partir de 2017. “O maior deles, o estudo Vital, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, vai corroborar, ou não, o que se especula acerca da substância”, antecipa a endocrinologista Marta Sarquis, da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi-se o tempo em que a vitamina D estava na penumbra de elixires mágicos. Mas ainda falta muito para compreendermos todos os seus mistérios.

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