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Cólica menstrual: alívio para as pontadas

E sem apelar a remédios. É o que propõe um novo dispositivo, criado e testado no Brasil, que emite choquinhos no ventre para silenciar o desconforto mensal

Por Chloé Pinheiro (colaboradora)
Atualizado em 8 mar 2018, 11h56 - Publicado em 15 jul 2015, 13h26

Algumas mulheres têm que incluir na agenda um compromisso penoso: enfrentar, todo santo mês, a cólica menstrual. Uma parcela sente dores tão intensas e resistentes a remédios que as atividades do cotidiano precisam ficar em segundo plano. “Dependendo da intensidade, elas ainda são acompanhadas de náuseas, vômitos e até desmaios”, traça o quadro completo o ginecologista Paulo Giraldo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista. É para essas sofredoras de plantão que surge uma esperança no horizonte. Giraldo está avaliando um pequeno aparelho portátil que, ao lançar estímulos elétricos suaves sobre a pele, barra a cólica. Não é preciso tomar comprimidos nem recorrer a métodos invasivos.

“Ainda não podemos mostrar os resultados finais, mas a impressão é a melhor possível. As voluntárias se adaptaram bem e se sentiram bastante aliviadas”, adianta o professor da Unicamp, cujo estudo envolve 60 participantes. O dispositivo em questão, concebido pelo empresário Moacyr Bighetti, da Medecell, mede uns 15 centímetros de comprimento e se baseia numa tecnologia amplamente empregada na fisioterapia: a estimulação elétrica nervosa transcutânea, ou TENS. Originalmente, o produto foi projetado para tratar dores crônicas associadas a problemas na coluna ou nas juntas, por exemplo. E testes foram conduzidos por pesquisadores brasileiros, exibindo bons índices de eficácia. Daí pintou a ideia: por que não usar o mesmo contra a cólica menstrual?

Dispositivo portátil

O aparelho é posicionado no ventre e emite choquinhos numa frequência inofensiva para o organismo. A intensidade pode ser controlada e o objetivo é simples: enganar o cérebro. Isso mesmo. A TENS impede que o sistema nervoso leia e perpetue os sinais de dor. O primeiro estudo a confirmar esse efeito na dismenorreia, o nome científico da cólica, foi comandada pela médica especialista em dor Gabriela Lauretti na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Ela analisou essa saída em 20 mulheres. Usando uma escala de intensidade da dor que vai de 0 a 10, as moças relataram que o incômodo caiu, em média, de 7 para 2. Nove das participantes deixaram de usar medicamentos contra as cólicas e, três meses depois do experimento, 14 continuaram lançando mão das TENS.

“Uma das coisas mais interessantes do aparelho é a sua praticidade, já que é portátil e fácil de usar”, elogia Gabriela. Ele chegou ao mercado em 2013 ao custo médico de 70 reais. Cada unidade tem uma bateria com dez horas de duração – o que rende cerca de 30 sessões de 20 minutos. A Medecell aposta que seu equipamento ajude a diminuir o uso (e, muitas vezes, o abuso) de medicamentos como analgésicos. “Mesmo os remédios específicos para cólica, que diminuem os espasmos no útero, podem ter efeitos adversos, como danos aos rins, se forem tomados direto”, alerta Gabriela.

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O mesmo raciocínio se aplica a outras condições dolorosas, como lombalgias. “Essa tecnologia parece ser mais segura do que as medicações se pensarmos em longo prazo”, opina Mark Johnson, diretor do Centro de Pesquisas em Dor da Universidade Leeds Beckett, na Inglaterra. E a eficiência do método seria justificada pelo fato de que, além de iludirem o cérebro, os choques leves incitam a produção dos nossos analgésicos internos. “Estímulos como eletricidade e calor fazem o cérebro liberar tanto substâncias que cortam a percepção do incômodo como outras que inibem diretamente a dor”, ensina o neurocirurgião Manoel Jacobsen, do Hospital Sírio-Libanês, em são Paulo.

Não substitui as consultas

Acontece que um dos pontos positivos da novidade – essa sensação de independência pela facilidade na hora de transportar e usar – dá margem a ressalvas de especialistas. “Comprar um aparelho desses e utilizar em casa sem orientação pode mascarar uma dor que serve de alerta para um problema mais sério”, pondera Anderson Luís Coelho, presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional de Minas Gerais. Moacyr Bighetti, o homem por trás da invenção, reforça, no entanto, que o dispositivo não pretende substituir consulta e tratamentos com profissionais. “A intenção é aliviar a situação, às vezes incapacitante”, diz.

Seu desafio agora é justamente popularizar o aparato entre médicos e companhia – afinal, apesar de o produto não exigir receita, eles poderão prescrevê-los. “Os médicos em geral não conhecem a tecnologia, mas agora terão um produto eficaz para ser indicado aos pacientes”, afirma Bighetti.

O complô anticólica

Claro que  novo aparelho não se destina a toda mulher com desconforto menstrual. Até o momento, ele parece prestar melhor serviço se as dores são severas (ou se os comprimidos falham). Sessões de 20 minutos seriam o suficiente para barrar a chateação – e se acredita que o mesmo efeito seja obtido em mulheres que sentem dor após relação sexual. Já cólicas mais brandas não requerem necessariamente esse investimento. Uma bolsa de água morna, por exemplo, já ajuda a calar a boca do incômodo, uma vez que também disfarça o sinal doloroso emitido lá do útero. “O calor aumenta a dilatação dos vasos sanguíneos na região e o sangue passa a circular melhor. Isso favorece a eliminação das substâncias por trás dos espasmos uterinos”, explica Paulo Giraldo. Da mesma forma, quando bem indicados, medicamentos antiespasmódicos (e não analgésicos comuns!) podem apaziguar o sofrimento.

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Claro que há casos e casos, e todos merecem avaliação do ginecologista. Cólicas são mais corriqueiras em adolescentes e podem diminuir de intensidade com o tempo. “Mas, se a mulher nunca teve episódios, e do nada passa a sofrer com isso, pode haver alguma doença envolvida”, avisa a médica Zuleide Cabral, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Como uma endometriose, o crescimento do tecido que reveste o útero para fora desse órgão. Ela é um dos principais problemas capazes de se gerar cólicas de se jogar na cama – e seu tratamento vai por outro caminho. Por isso, não adianta apelar por conta própria a remédios ou novas tecnologias esperando resultados milagrosos. Agora, se o aval médico for concedido, já dá pra dizer que está chegando um tratamento de choque contra o tormento.

Tratamento de choque

Como o dispositivo se vale de impulsos elétricos para enganar o cérebro e dar cabo das cólicas

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